Quadrilha obrigou refém a ligar para a PM e falar de assalto: ‘A gente está sendo escudo humano’

aracatuba

Os moradores que foram feitos reféns durante o mega-assalto em Araçatuba (SP) tiveram que ligar para a Polícia Militar e dizer que foram rendidos e estavam sendo usados como escudo humano pela quadrilha.

O áudio de uma ligação à central telefônica da PM (190), divulgado pela reportagem do Fantástico neste domingo (5), revela o terror vivido pelas vítimas (ouça no vídeo acima)Confira a transcrição:

  • Atendente da PM: “Polícia Militar, emergência.”
  • Vítima: “Moça, pelo amor de Deus.”
  • Vítima: “A gente está sendo escudo humano.”
  • Som de tiros
  • Vítima: “Nossa Senhora”

Uma das vítimas contou que os criminosos mandaram eles falar para a polícia o que estava acontecendo.

“Ele [criminoso] falou: ‘fala o que está acontecendo, que é um assalto. Vocês são reféns'”, disse um morador que foi rendido e ficou pendurado em carro como escudo humano.

De acordo com o comandante do Batalhão de Ações Especiais de Polícia (Baep) de Araçatuba, Luiz Antonio Araújo, a ligação feita pelos reféns é uma forma de intimidar a corporação para que não haja intervenção.

“É uma estratégia para que a polícia não se aproxime e que eles consigam efetivar a fuga sem nenhum problema”, diz Araújo.

Dois moradores, um comerciante e um personal trainer, morreram baleados durante a madrugada de terror no noroeste paulista. O personal chegou a ser usado como escudo humano. Já o comerciante foi baleado enquanto gravava a ação dos criminosos.

Vítimas penduradas

Novas imagens de câmeras de segurança registraram o momento em que a quadrilha que atacou agências bancárias em Araçatuba aborda as vítimas e as coloca sobre os carros como escudo humano.

As imagens, conseguidas pela reportagem do Fantástico, mostram uma das vítimas ao lado de um dos criminosos, quando um deles atirou para o alto (veja o vídeo abaixo).

Assalto em Araçatuba: novas imagens mostram criminosos colocando vítimas sobre carros

Assalto em Araçatuba: novas imagens mostram criminosos colocando vítimas sobre carros

Os tiros seriam para intimidar as outras vítimas, que foram colocadas no capô e teto de pelo menos oito carros usados pela quadrilha.

“Ele disse para eu subir no teto. Não me amarraram. Eu tive que segurar com as minhas mãos e minha força”, contou um dos reféns à reportagem do Fantástico.

Câmeras de segurança flagraram abordagem a reféns de ataque em Araçatuba (SP) — Foto: Reprodução/TV Globo

Câmeras de segurança flagraram abordagem a reféns de ataque em Araçatuba (SP) — Foto: Reprodução/TV Globo

Outras câmeras registraram o comboio dos bandidos nas ruas do Centro da cidade com os reféns pendurados sobre os carros.

Outra vítima colocada sobre um dos veículos relatou que passou por momentos de pânico e foi ameaçada pelos criminosos.

Criminosos fizeram 'escudo humano' com moradores de Araçatuba (SP) — Foto: Arquivo pessoal

Criminosos fizeram ‘escudo humano’ com moradores de Araçatuba (SP) — Foto: Arquivo pessoal

“Davam tiro para o alto, deram tiro em cima dos prédios. Aí um deles [dos criminosos] tomou um tiro do meu lado, tomou tiro no pescoço e morreu na hora. Eles me fizeram puxar o corpo, colocar dentro do porta mala do carro”, disse.

Gate usa robô para manejar explosivos apreendidos em Araçatuba — Foto: Reprodução

Gate usa robô para manejar explosivos apreendidos em Araçatuba — Foto: Reprodução

“Na hora que me colocou no capô do carro, ele ainda falou: ‘se você soltar, se você se jogar, eu paro o carro e dou um tiro na sua cara’. Eu acho que eu nunca segurei num lugar tão forte igual eu segurei aquela hora. Eles passavam em lombada, passavam em depressão da rua, e o carro pulava, e eu segurando. Tanto é que uma hora que eles passaram próximo ao calçadão, na hora que teve um confronto com a polícia, levei um [tiro] de raspão. A única coisa também que aconteceu, o único machucado que tive”, complementou.

Pelo menos 20 criminosos participaram da ação. Eles chegaram à região central de Araçatuba por volta da meia-noite de segunda-feira, 30 de agosto, usaram moradores como escudo humano e espalharam explosivos.

O Grupo de Ações Táticas Especiais (Gate) encontrou 98 artefatos. Eles foram localizados nas ruas, nos bancos, em carros abandonados e em um caminhão deixado perto das agências bancárias. Todos foram detonados em um aterro sanitário do bairro Água Branca.

Veículos foram queimados em vários pontos do município e da região para impedir a chegada da polícia. Drones também foram usados pela quadrilha para monitorar a ação e a fuga.

Vídeos de câmeras de segurança mostram moradores em cima de carros, enquanto a quadrilha foge em alta velocidade.

Agências atacadas

Duas agências bancárias foram assaltadas. Em uma delas, que funciona como uma tesouraria regional, os criminosos tiveram acesso ao cofre subterrâneo. Na outra, a quadrilha atacou os caixas eletrônicos. A terceira agência foi apenas danificada. O valor levado não foi divulgado.

Araçatuba: assaltantes atacam 3 agências bancárias e espalham explosivos na cidade — Foto: Arte G1

Araçatuba: assaltantes atacam 3 agências bancárias e espalham explosivos na cidade — Foto: Arte G1

Depois atacar as agências bancárias e trocar tiros com a Polícia Militar, a quadrilha fugiu em direção ao bairro Engenheiro Taveira, onde também roubou veículos de moradores.

Três pessoas morreram na cidade, sendo dois moradores e um criminoso. Outras cinco ficaram feridas, entre elas o ciclista que teve os pés amputados após ser atingido por um explosivo.

Presos

Até esta segunda-feira (6) foram presos seis suspeitos de participação no crime. Um casal foi detido na cidade, horas depois do ataque aos bancos, suspeito de ser olheiro do bando.

O homem foi levado do presídio de Penápolis para o Centro de Detenção Provisória (DCP) de São José do Rio Preto (SP). A mulher foi encaminhada à penitenciária de Tupi Paulista.

Outro suspeito, de 27 anos, preso em Campinas, havia sido levado para a sede da PF em Araçatuba para prestar depoimento. O homem que confirmou participação na organização do crime também foi levado de Penápolis para o CDP de Rio Preto.

Foto mostra suspeito de participar do mega-assalto com o braço esquerdo ferido  — Foto: Arquivo Pessoal

Foto mostra suspeito de participar do mega-assalto com o braço esquerdo ferido — Foto: Arquivo Pessoal

Outros dois suspeitos foram internados com ferimentos, sob escolta policial, na Santa Casa de Piracicaba. Segundo a polícia, um confessou a participação no crime. O outro estava inconsciente e morreu na sexta-feira, 3 de setembro.

Dois suspeitos foram presos em São Pedro, região de Piracicaba, no dia 3 de setembro, em uma operação contra o tráfico de drogas. Com a dupla, a polícia apreendeu roupas táticas, coletes balísticos, lanternas, binóculos, máquina para contar dinheiro, munições .40 e .380, carros, além de cerca de R$ 3 mil.

Um criminoso foi encontrado morto em um carro abandonado na zona rural de Araçatuba, após fuga da quadrilha. Segundo a polícia, o homem foi baleado em uma troca de tiros com a polícia no centro e levado pelos comparsas, que o abandonaram ao constatar a morte.

corpo de outro homem foi encontrado em Sumaré (SP). Ele vestia calça, luvas e colete balístico. A polícia suspeita que também se trata de um criminoso que atacou os bancos em Araçatuba e trocou tiros com a polícia.

Terreno em Sumaré (SP) onde corpo do homem de 47 anos suspeito de participar de mega-assalto em Araçatuba — Foto: Pedro Torres/EPTV

Terreno em Sumaré (SP) onde corpo do homem de 47 anos suspeito de participar de mega-assalto em Araçatuba — Foto: Pedro Torres/EPTV

Informações: G1

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