Após três anos, tradicional Vaquejada de Serrinha volta a ser realizada na BA; Evento preserva cultura e movimenta R$ 40 milhões

A Vaquejada de Serrinha começou em 1967, como um momento de celebração aos tropeiros que saíam de Salvador, passavam por Feira de Santana, Serrinha, até chegarem na região margeada pelo Rio São Francisco, no norte baiano.

Além de ser um importante meio de preservação e valorização da cultura sertaneja, o evento movimenta a economia serrinhense e de outras cidades da região sisaleira. Historicamente, a festa é realizada na semana em que é celebrada a Independência do Brasil, dia 7 de setembro.

O fato de ser um feriado ajuda a atrair milhares de pessoas para a cidade durante a vaquejada. De acordo com a organização, em 2023, cerca de 100 mil pessoas são esperadas para aproveitar os cinco dias de programação no Parque Maria do Carmo, com fluxo maior entre quinta (7) e sábado (9).

A população de Serrinha é de pouco mais de 80 mil pessoas, de acordo com o último Censo do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE), divulgado neste ano. No período do evento, a quantidade de pessoas circulando pela cidade pode chegar chega a 160 mil passantes, o dobro do número de moradores, conforme a prefeitura municipal.

Além da programação do parque multiuso, que tem espaço para shows e para disputa de vaquejadas, com camarotes e arquibancadas, muita gente vai para Serrinha participar da missa dos vaqueiros e das cavalgadas.

A taxa de ocupação hoteleira está com praticamente 100% de ocupação nesta semana, e muitas famílias deixam suas casas para alugar aos visitantes, garantindo uma renda extra. É o caso da recepcionista Bárbara de Lourdes Gomes, que já está na residência da mãe, no bairro da Santa, para alugar o imóvel de dois quartos onde mora, para um grupo de seis turistas sergipanos.

“Ganho mais dinheiro alugando minha casa em setembro do que com o meu décimo terceiro salário, em dezembro. Fora isso, a família toda se reúne, a gente se diverte. A vaquejada é o nosso Natal”, disse.

Além disso, o movimento é intenso em lojas de confecções e calçados, que comercializam peças que fazem sucesso em Serrinha e no universo sertanejo, em geral, como roupas com franjas, em couro e muitas botas, além de chapéus estilizados.

A Câmara de Dirigentes Lojistas (CDL) estima um aumento mínimo de 15% das vendas no comércio serrinhense no mês de setembro, em comparação a outros meses sem datas comemorativas, como Dia das Mães e São João. A estimativa é de que a festa movimente cerca de R$ 40 milhões na economia local.

“O setor de comércio e serviços, desde salões de beleza, lojas de roupas, calçados, restaurantes, lanchonetes, postos de gasolina, até motoristas de aplicativos e mototaxistas, está a todo vapor”, declarou Carlinhos Serra, sócio e administrador do Parque Maria do Carmo.

Segundo ele, o evento gera cerca de dois mil empregos, diretos e indiretos. Somente no parque, mais de mil pessoas trabalham nos shows e nas disputas. Ambulantes, seguranças, auxiliares de serviços gerais, montadores de estrutura, técnicos de som e luz, operadores de bar, promotores de marca, profissionais da saúde, são algumas categorias envolvidas em um evento desta grandiosidade.

A vaquejada começou nesta quarta-feira (6), com a primeira disputa às 6h. Participantes de várias partes do Brasil concorrem nas categorias amador e aspirante, feminino e Derby. No último dia, acontece a competição final, com R$300 mil em prêmios.

Durante a competição, duas pessoas, cada uma montada em um cavalo, perseguem um boi, até emparelhá-lo entre seus animais. O objetivo é levar o boi às duas últimas faixas demarcadas no chão da pista. Nesse trecho específico, o boi deve ser derrubado pelo vaqueiro puxador, que tem a função de puxar o rabo do animal, colocando-o dentro da faixa apropriada. O outro vaqueiro, o batedor de esteira, tem a função de levar o boi para o derrubador, empurrando-o com as pernas do cavalo.

Em 2017, a festa quase foi cancelada devido à proibição das atividades da vaquejada, consideradas inconstitucionais por causarem sofrimento aos animais e, assim, violarem os princípios constitucionais de preservação do meio ambiente.

Essa decisão havia sido tomada no ano anterior. O Supremo Tribunal Federal (STF) decidiu derrubar uma lei do estado do Ceará que regulamentava a prática, considerada como esporte no Nordeste brasileiro.

Porém, no mesmo ano, o plenário do Senado aprovou em primeiro e em segundo turnos, uma proposta de emenda à Constituição (PEC) apresentada pelo senador Otto Alencar (PSD-BA) que viabiliza a prática. A PEC estabelece que “não são cruéis as práticas desportivas que utilizem animais, desde que sejam manifestações culturais”.

Uma diferença no retorno da vaquejada, em relação aos anos anteriores, é o cancelamento da eleição a rainha e princesas da vaquejada, além do peão. Segundo os promotores, não houve tempo hábil para preparar esta parte do evento.

A escolha mobilizava milhares de pessoas, sobretudo jovens, em um desfile onde jurados votavam nos melhores, levando em consideração requisitos como simpatia e elegância. Para participar, claro, era preciso conhecer a cultura do vaqueiro. A disputa atraía concorrentes de várias cidades da região, que, além do título e da faixa, recebiam premiações e eram tratadas como realezas no evento.

“A festa é programada o mínimo de antecedência de 6 meses. Esse ano, o cenário ainda estava incerto, mas deu tudo certo. A vaquejada é muito importante para a cultura e a economia da cidade, coloca o nome de Serrinha no cenário nacional, não podíamos ficar mais um ano sem”, comentou Carlinhos Serra.

Apesar de a disputa de vaqueiros ter começado nesta quarta, na quinta (7) será realizada a abertura oficial com Missa do Vaqueiro, às 11h, no Parque Maria do Carmo, que fica no bairro batizado com o nome da festa: “Vaquejada”. Depois da celebração, começa a cavalgada oficial que declara a retomada dos festejos.

Na sexta-feira (8), os shows iniciam. A partir das 18h, se apresentarão Nattan, João Gomes, Nadson “o Ferinha”, Léo Santana, Kart Love, Toque 10, Iguinho e Lulinha.

No sábado (9), a partir das 15h, sobem ao palco Tierry, Xand Avião, Bell Marques, Tarcísio do Acordeon, Thiago Aquino, Pablo, Unha Pintada, Forró do Tico e Zé Vaqueiro. Wesley Safadão também se apresentaria nesta data, mas a agenda dele foi cancelada por tempo indeterminado, devido a problemas de saúde.

Para encerar, no domingo (10) acontece a disputa final juntamente com as premiações, com entrada gratuita. Os interessados em assistir aos shows podem comprar os ingressos pela internet. Os valores variam entre R$ 110 e R$ 500, a depender do lote, do setor escolhido (arena, camarote, vip) e do tipo de entrada (meia ou inteira).