Orgasmo feminino: por que cada mulher tem uma maneira única de gozar, segundo a ciência

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orgasmo feminino ainda é um tabu na sociedade: por anos, a mídia e a ciência – dominadas majoritariamente por homens – pouco falaram sobre esse tema. Os resultados estão aí: ainda que o debate tenha florescido em setores mais progressistas da sociedade, a sexualidade feminino ainda é tema de repressão e o prazer ainda é assunto proibido nas rodas de conversa dos conservadores.

Mas existem pesquisas que tentam quebrar essa lógica e compreender o orgasmo feminino a fundo: equipes de psiquiatras, psicólogos e neurologistas se debruçam anualmente sobre os dados que podem revelar um pouco sobre o mar da sexualidade.

As estatísticas para a falta de orgasmos femininos é absolutamente estarrecedora: segundo dados da Universidade de Michigan, 40% das mulheres não atingem o gozo em suas relações sexuais. No Brasil, pesquisas da Prazerela mostram resultados ainda mais assustadores: apenas 36% das mulheres atingem o orgasmo durante suas relações sexuais.

“A grande maioria das mulheres nunca teve educação sexual ou, quando teve, o foco foi sempre na perspectiva negativa envolvendo os riscos e consequências do ato sexual. Nunca foi ensinado que as mulheres podem ter prazer através da sexualidade, por isso, elas ainda buscam encontrar um problema físico que justifique a sua incapacidade de sentir prazer feminino. O caminho é inverso, todas podem sentir prazer, a limitação é cultural”, explica a psicanalista Mariana Stock, fundadora da Prazerela, à revista Marie Claire.

As terminações nervosas genitais são, claramente, o meio pelo qual o corpo é excitado. Mas existem uma série de mecanismos de excitação que fazem cada orgasmo feminino ser único e, portanto, cada corpo tem seu jeito de gozar. Mas como a ciência explica isso?

Como a ciência aborda o orgasmo feminino

Quando falamos sobre as terminações nervosas dos genitais femininos, falamos de uma gama de diversidade de sensibilidade absolutamente incomparável. É sério. E isso irá alterar como funciona o orgasmo feminino.

Por anos, os cientistas homens observaram e mapearam diversos problemas nervosos que podem estar relacionados à disfunções sexuais masculinas.

A ginecologista Deborah Coady, de Nova York, começou a mapear as terminações nervosas dos clitóris de diversas mulheres após descobrir que nunca a ciência havia se preocupado com o tema.

E ela descobriu que a grande quantidade de nervos de cada mulher é distribuída de forma única. Basicamente, é uma impressão digital do prazer: cada genital será mais ou menos sensível de forma absolutamente diferente.

“Aprendemos que provavelmente não existem duas pessoas parecidas quando se trata de ramificação do nervo pudendo”, diz Coady à BBC. O nervo pudendo é o principal nervo dos genitais. “A maneira como as ramificações (do nervo) passam pelo corpo leva a diferenças na sexualidade, ou seja, a sensibilidade de certas áreas vai variar de mulher para mulher. Isso explica por que algumas mulheres são mais sensíveis na área do clitóris e outras na entrada da vagina”, observa.

Essa variação e a grande quantidade de terminações nervosas é o que vai fazer as formas de prazer de cada mulher absolutamente diferente. Por isso, é importante descartar tutorias mágicos para orgasmos femininos ou as propagandas dos vibradores que prometem gozadas ‘expressas’ – pasmem, há sex toys que prometem orgasmos em 30 segundos. Cada vulva goza de um jeito! Não se pressione caso não atinja o orgasmo como suas amigas e está tudo bem caso o tutorial mágico das redes sociais não funcione.

A importância da masturbação no orgasmo feminino

É justamente por conta disso que a masturbação se torna a grande companheira na descoberta do prazer sexual feminino. Através do toque na própria vulva é que a mulher irá compreender onde o toque é mais gostoso e onde não é. A partir daí, as coisas passam a ficar mais fáceis para atingir o orgasmo feminino.

“O prazer feminino é um tabu gigante. A esmagadora maioria das mulheres não se toca, não se conhece, e com isso elas não têm prazer na cama pelo simples fato de que não sabem o que lhes dá prazer. Ficamos infelizes no relacionamento porque achamos que aquilo é normal, não sabemos como sair. Enquanto o homem se masturba desde jovem, – aliás, é incentivado a isso – as meninas crescem ouvindo que não podem colocar a mão lá, que é feio, é sujo! Quando uma mulher passa a se conhecer, a testar seus limites, os pontos de prazer do seu corpo, ela se torna responsável pelo seu prazer e não aceita menos do que o melhor para sua vida sexual”, afirma a sexóloga Cátia Damasceno.

Brinquedos podem cumprir papel importante no prazer sexual e podem ser usados para maior satisfação na cama, seja sozinha ou acompanhada

Os brinquedos acabam cumprindo papel essencial na procura por prazer. Eles podem trazer sensações diferentes para a vulva e gerar excitação de forma diferente, causando orgasmos femininos diversos e variados, que você pode gostar. Existem várias opções no mercado, que vão dos massageadores de tomada até pequenos vibradores do tamanho de uma pilha, perfeitos para a discrição.

Esse autoconhecimento que vem dos dedos e dos sextoys deve servir também para uma conversa com seu parceiro ou a sua parceira. É natural que as pessoas não acertem de primeira (e às vezes, sem um toque, não acertam nunca) a forma de promover os orgasmos para seus parceiros sexuais. Portanto, uma conversa franca sobre seu prazer e quais são as suas regiões mais sensíveis certamente irão melhorar a sua vida sexual e a sua relação com seu parceiro ou parceira. Afinal, todo mundo adora um bom orgasmo!

A especialista em orgasmos femininos Vanessa Marin, entretanto, enxerga que o orgasmo não necessariamente é tudo na vida sexual. Em uma conversa com o thrillist, a psicóloga e pesquisadora da Brown University afirma que o prazer deve ser encarado de forma mais diversa e aberta.

Prazer sexual depende de diálogo e autoconhecimento; vida libidinosa ativa e livre faz relações mais divertidas, conectadas e sinceras

“Ainda que eu tenha trabalhado toda a minha vida pensando em orgasmos, todo o meu foco sempre foi transformar a relação das mulheres com o prazer em um sentido bem mais amplo do que o gozo. Os orgasmos são importantes, é claro, mas eles duram pouco tempo”, explica a especialista, que fundou uma empresa que literalmente ensina mulheres a gozar.

Segundo a especialista, o gozo é apenas um meio para conquistar relações afetivas mais sinceras e divertidas consigo mesma e com seu parceiro ou parceira. Marin afirma que o orgasmo feminino é apenas a cereja do bolo.

“Nossa missão é ensinar mulheres a sentir prazer explorando seus corpos. É importante que elas ganhem confiança e consigam satisfazer suas próprias necessidades (e não ter orgasmos para satisfazer seus maridos). Quero que elas entendam como se concentrar em cada momento de prazer, mesmo os pequenos. Amo quando as mulheres me contam sobre outras coisas que ocorrem no sexo: as risadas, as conexões, a diversão e as inibições indo embora. O orgasmo é a cereja do bolo, mas o bolo pode – e deve -ser muito gostoso”, afirma.

Informações: Hypeness

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