Estudante trans denuncia que foi chamada de ‘traveco’ e mantida presa dentro de carro de motorista de app: “Aterrorizante”

rayanne

Uma estudante trans de 33 anos denuncia que foi chamada de “traveco”, “imunda” e mantida presa dentro do carro de um motorista de aplicativo quando ia para faculdade, em Goiânia. Ela contou que foi a primeira vez que viveu uma situação tão violenta e que só conseguiu escapar após gritar por socorro e colegas aparecerem.

“Foi aterrorizante, foram os piores momentos da minha vida”, disse Rayanne Eduarda Brito dos Santos.

A vítima é estagiária na Defensoria Pública do Estado (DPE) e resolveu denunciar o caso para que casos como esse não fiquem sem punição e também para encorajar outras vítimas desse tipo de crime a procurar a delegacia especializada.

Rayanne saía de casa no último dia 27 em direção à faculdade, onde cursa direito. Ela contou que, durante o caminho, sentiu que o motorista estava diferente, como se estivesse incomodado com algo, mas não desconfiou que ele pudesse ser agressivo.

Ela conversou com o motorista duas vezes durante o trajeto: pedindo para aumentar um pouco a música e oferecendo uma balinha a ele. Ao chegar próximo à faculdade, indicou a entrada certa para que ele parasse. Porém, o homem se dirigiu ao ponto errado. Quando ela o orientou novamente sobre o local, as ofensas começaram.

“Ele virou para mim e perguntou qual o meu problema. Depois falou: ‘Você é chata, imunda, fedida, traveco’. Ele puxou o freio de mão do carro no meio da avenida”, contou.

Durante cerca de sete minutos, a estudante conta que foi ofendida e que o motorista fazia movimentos como se quisesse pegar algo embaixo do banco. As portas do carro estavam travadas e ela não conseguia descer e fugir.

“Ele disse que eu era uma raça desgraçada e que ninguém quer andar com transexuais em Goiânia. As palavras tentaram me diminuir como ser humano”, disse a estudante.

Em um momento das ameaças, o homem saiu do carro e ameaçou ir em direção à passageira, mas acabou desistindo. Rayanne começou a gritar, o que chamou a atenção de alunos da universidade. Um grupo foi ajudá-la e, finalmente, ela conseguiu sair do carro.

“Eu fiquei procurando motivo para aquela agressão, mas não tem. Se não foi por ser trans, eu não sei o que pode ter sido”, disse.

Denúncia

Ela registrou o caso no aplicativo inDriver, por onde pediu a corrida, e também na Polícia Civil. O g1 entrou em contato com a plataforma por e-mail às 10h10, mas não teve retorno até a última publicação dessa reportagem.

“As pessoas precisam entender que é um crime e tem punição. E quero incentivar outras mulheres trans a denunciarem esses crimes”, completou Rayanne.

O delegado Joaquim Adorno, do Grupo Especializado no Atendimento às Vítimas de Crimes Raciais e Delitos de Intolerância (Geacri), disse que o caso já começou a ser investigado. “Pelo relato da vítima, o motorista deve responder por injúria homofóbica e pela prática de preconceito de identidade de gênero”, disse.

O motorista deve ser identificado e ouvido nos próximos dias. Adorno destacou que a delegacia especializada ajuda a não deixar esse tipo de crime ser esquecido ou negligenciado.

“Estamos preparados para dar a importância necessária para esse tipo de situação, além de dar uma agilidade maior, não deixando em delegacias que têm grande demanda de outros caso”, completou.

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