Crise na Venezuela provoca corrida por alimentos na fronteira de Roraima

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A crise econômica na Venezuela está provocando uma corrida por alimentos em Pacaraima, no Norte de Roraima. O município, que possui pouco mais de 10 mil habitantes, segundo dados do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE), faz fronteira com o país vizinho e recebe dia após dia centenas de venezuelanos em busca de comida e remédios.

Durante os sete dias da semana, a movimentação no comércio de Pacaraima, a 250 KM de Boa Vista, começa nas primeiras horas do dia. No último sábado (16), às 9h a cidade já estava lotada de venezuelanos. Eles faziam filas para comprar itens básicos como arroz, farinha de trigo, óleo, macarrão, margarina e açúcar. Os mantimentos são para alimentar famílias inteiras que sofrem com o desabastecimento de alimentos.

Na fronteira entre Brasil e Venezuela, o limite entre os dois países é marcado apenas por cancelas e o tráfego de veículos é praticamente livre nos postos de fiscalização das polícias Federal e Rodoviária Federal.Apenas os estrangeiros que pretendem ir para outras cidades do país é que se apresentam no posto da PF para pedir visto.

A comerciante venezuelana Rosa Maria de 53 anos, viajou para Pacaraima no último sábado para comprar comida. Ela tem um restaurante em Puerto Ordaz e sente na pele que a falta de alimentos destrói os negócios e ameaça a sobrevivência dos filhos.
“Vim comprar comida para minha família e para o meu restaurante em Puerto Ordaz aqui [em Pacaraima]. Na Venezuela não tem arroz, azeite, açúcar e se tem é com o preço muito alto e não tenho como comprar”, conta. Enquanto dava entrevista, a comerciante aguardava um táxi para levá-la de volta a cidade natal. “Serão 11h de viagem, mas vale a pena porque terei comida em casa”.

O operário Jossi Guillen, de 53 anos, também enfrentou uma longa viagem para chegar a Pacaraima. Ele saiu de Sán Felix, no Sul da Venezuela, e viajou por 10h para comprar comida e alimentar os cinco filhos que o esperam em casa.

“A Venezuela está passando por uma crise muito intensa. Ganho R$ 2 por dia na empresa de alumínio em que traballho. Por isso, não consigo comprar comida lá, porque quando encontramos alimentos, eles são muito mais caros do que aqui no Brasil. Então, temos que vir aqui para comprar mantimentos e conseguir sobreviver lá”, conta Guillen.

A corrida por alimentos se intensificou bastante nos últimos 30 dias, segundo os comerciantes de Pacaraima. A procura por comida é tanta que muitos empresários da cidade resolveram vender alimentos. Assim, é comum ver lojas que antes eram voltadas a venda de artesanatos, bijuterias, pneus e até baterias de carro sendo transformadas em pequenos mercados.

“A gente não teve escolha. Tivemos de começar a vender comida também, se não as vendas caem e ficamos sem dinheiro. Os venezuelanos não querem nada além de comida, então tive de comprar uns fardos de arroz e colocar aqui na loja que antes só vendia artesanatos do Brasil. É a única maneira que temos para lucrar”, revela um comerciante que pediu anonimato.

Em algumas lojas, os comerciantes retiraram os nomes das fachadas. Em outras, pacotes de açúcar dividem espaço com DVDs de jogos e eletrônicos. Até uma farmácia agora vende fardos de arroz, macarrão, açúcar e óleo a R$ 100 cada.

“Vim aqui comprar remédios para minha esposa que está doente porque também há escassez de medicamentos na Venezuela. Depois daqui, iremos atrás de comida para levar para nossa casa”, conta John Gundino, que mora em Aragua e viajou por um dia até chegar a farmácia que também vende comida em Pacaraima.

Na fronteira, o comércio está tão aquecido, que imigrantes de outros países também investem na cidade. Uma família de descendente de árabes chegou há um mês ao município e já possui quatro mercados.

“Nasci em São Paulo, morei em Caracas e Santa Elena de Uairén. Há um mês decidi vir para Pacaraima. O comércio daqui está muito bom, enquanto que na Venezuela a situação é de escassez total. O Brasil abriu as portas e está permitindo que os venezuelanos atravessem a fronteira e venham até aqui ou a Boa Vista para comprar itens básicos que não tem no país”, explica o comerciante Ali Mohamed.

Antes da crise, era comum que os brasileiros viajassem até Santa Elena de Uairén para comprar bebibas, material de limpeza, higiene pessoal e produtos alimentícios. Os itens eram vendidos por um preço abaixo do cobrado no Brasil. À época, a Receita Federal afirmava que esse trânsito de turistas brasileiros geravam prejuízo de milhares de reais aos cofres de Roraima. Em 2014, o presidente Nicolás Maduro proibiu os brasileiros de importar mercadorias da Venezuela.

Além de funcionar sete dias por semana para atender a demanda de estrangeiros, o comércio de Pacaraima agora se vê ‘internacionalizado’. Isto porque muitos venezuelanos compram alimentos com o bolívar, a moeda da Venezuela.

No último sábado, um real estava cotado em 350 bolívar, no câmbio feito dentro da cidade. Assim, na hora de pagar pelas compras, os venezuelanos desembolsam milhares de notas. Para agilizar as vendas, os comerciantes de Pacaraima utilizam máquinas de contar o dinheiro.

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