Saiba o que é sorva, fruta que ajudou a salvar crianças que ficaram 27 dias desaparecidas na floresta amazônica

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Fruto pequeno, adocicado, redondo, de coloração verde e casca fina. A sorva, alimento da região amazônica, foi o fruto ingerido por Glaucon e Gleison, irmãos de 7 e 9 anos de idade que passaram 27 dias perdidos na floresta, em Manicoré, a 390 quilômetros de Manaus.

Os irmãos desapareceram no dia 18 de fevereiro, quando foram caçar pássaros na mata e não retornaram.

Após serem encontrados em estado severo de desnutrição e com escoriações, na última terça-feira (15), a dupla informou a familiares que não ficou sem se alimentar durante o período em que estava perdida na floresta porque consumiram o fruto.

Irmãos ficaram 27 dias perdidos na floresta amazônica — Foto: Reprodução

Irmãos ficaram 27 dias perdidos na floresta amazônica — Foto: Reprodução

A agricultora Rosinete da Silva Carvalho, mãe das crianças, contou a conversa que teve com as crianças sobre como elas sobreviveram na floresta:

“Eu perguntei ‘meu filho vocês não comeram nada?’ Ele me disse: ‘a gente comeu sorva, mãe’. Os meninos sempre comiam sorva porque meu filho mais velho pegava quando ia caçar e sempre que via trazia uma saca pra eles. Então eram acostumados com a sorva”

A nutricionista e autora do livro Frutos Amazônicos, publicado pelo Instituto Nacional de Pesquisas da Amazônia (Inpa), Fabiana Neves, afirma que a fruta, apesar de saborosa, é difícil de ser encontrada nas feiras.

“Algumas pessoas não gostam de consumir a casca dela pela presença do látex, que quando a gente mastiga passa uma sensação igual a de chiclete, assim como a jabuticaba. Mas ela também tem muitas propriedades e fibras alimentares. Algumas famílias ribeirinhas gostam de consumir essa fruta no café, no lanche e nos intervalos. Não costuma ser uma fruta consumida após o almoço porque tem muita fibra”, explica.

Nutrição

Historicamente, a sorva era um alimento usado por seringueiros que saíam para trabalhar na floresta sem levar nenhum alimento e fazia parte da nutrição diária desses trabalhadores.

Segundo o Ministério da Saúde, 100 gramas de sorva têm 358 kilocalorias, 30,4 g de carboidratos e 25,6 g de gorduras. A nutricionista Emanuela Souza, especialista em linha funcional integrativa, faz uma comparação com outras frutas regionais que têm o valor nutricional parecido com o da sorva, entre elas, o tucumã, o açaí e o buriti:

“A sorva tem um alto conteúdo de gordura e são ótimas fontes de energia, por conta do carboidrato, e tem bons teores de vitamina A”, explica Emanuela.

Comparação de valores nutricionais

Fruta Calorias (Kcal) Proteínas (g) Lipídeos (g) Carboidratos (g) Fibra
Sorva 358 1,6 25,6 30,4 7,8
Tucumã 262 2,1 19,1 26,5 12,7
Buriti 145 1,8 8,1 10,2 9,6
Açaí 58 0,8 3,9 6,2 2,6
Sorva amadurecida. — Foto: Arquivo de Fabiana Neves

Sorva amadurecida. — Foto: Arquivo de Fabiana Neves

Sorva já foi encontrada em estados como Amazonas, Pará, Amapá e Rondônia, chegando até as Guianas, Colômbia e Peru. O fruto é geralmente encontrado em meio à floresta densa de matas virgens.

O tamanho da sorva pode variar, podendo ter desde o tamanho de uma uva até o de um limão.

Geralmente, a sorva é retirada da natureza para ser bebida. Dela é possível retirar boas quantidades de látex comestível. O látex pode ser ingerido puro ou diluído em água.

27 dias desaparecidos

Os irmãos passaram 27 dias perdidos na floresta em Manicoré, depois que saíram de casa para caçar pássaros. Na época, uma equipe do Corpo de Bombeiros iniciou as buscas para tentar encontrá-los, mas cinco dias após o início dos trabalhos as buscas foram suspensas.

Inicialmente, o governo divulgou que as crianças tinham 6 e 8 anos de idade e ficaram 26 dias desaparecidas. Depois, a mãe dos meninos corrigiu as idades para 7 e 9 anos e explicou que foram 27 dias perdidos na floresta.

As crianças foram localizadas na terça-feira (15), por um homem que estava cortando madeira na mata quando avistou os irmãos, na zona rural do município.

As duas apresentavam um quadro grave de desnutrição e várias escoriações na pele e foram levados ao hospital de Manicoré.

Na manhã de quinta-feira (17), eles foram transferidos para o Hospital e Pronto-Socorro da Criança, localizado na zona oeste de Manaus. As crianças foram transportadas em uma Unidade de Terapia Intensiva (UTI) aérea da Secretaria de Saúde e chegaram à capital por volta das 11h.

A princípio, as crianças não precisarão ser internadas em leitos de UTI e receberão atendimento em uma sala de enfermaria especial.

Internadas em Hospital  — Foto: Ayrton Senna Gazel

Internadas em Hospital — Foto: Ayrton Senna Gazel

Informações; G1

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