Ozempic pode provocar efeitos colaterais inusitados

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Originalmente indicada para o tratamento do diabetes tipo 2 em adultos, a semaglutida se popularizou também como uma “virada de jogo” para a perda de peso entre pessoas com obesidade e sobrepeso.

Alguns usuários, no entanto, relatam que os resultados positivos podem vir acompanhados por uma série de efeitos colaterais um tanto quanto inusitados, que incluem desde diarreia inesperada até mudanças nos hábitos alimentares e perda da vontade de ingerir bebidas alcoólicas.

A semaglutida é comercializada no Brasil nos medicamentos Ozempic – na versão de caneta injetável de uso semanal – e Rybelsus, pílula oral que deve ser usada diariamente, ambos fabricados pela farmacêutica Novo Nordisk. No Brasil, ela tem aprovação da Agência Nacional de Vigilância Sanitária (Anvisa) apenas para o tratamento do diabetes. O uso para perda de peso é feito por indicação off-label.

Estudos clínicos com o Ozempic mostraram que tais reações são mais comuns entre os pacientes que fazem uso do medicamento injetável com dose semanal de 2,4 mg de semaglutida, a mais alta.

Os efeitos colaterais mais comuns da semaglutida são de natureza gastrointestinal. Os pacientes costumam ter náusea, vômito, diarreia e gases no início do tratamento e durante a fase de adaptação da dose. A tendência é que os desconfortos sejam passageiros, até que o organismo se adapte plenamente à medicação.

Algumas pessoas relataram nas redes sociais que tiveram diarreia inesperadamente, tão repentina e forte que não conseguiram se segurar. Estudos clínicos mostram a ocorrência do efeito colateral em 30% dos voluntários.

O gerente médico da Novo Nordisk, Carlos Eduardo Travassos, afirma que estas são reações esperadas em todos os medicamentos da classe dos agonistas do GLP-1, o hormônio que promove a sensação de saciedade e otimiza a produção de insulina no sangue.

Outro efeito colateral comum é a saciedade. Pacientes relatam sentir-se satisfeitos com mais frequência, sem vontade de fazer todas as refeições do dia. A medicação age na diminuição da fome por meio do sistema nervoso central, e também reduz o esvaziamento gástrico, ou seja, o paciente se sente cheio por mais tempo.

O endocrinologista Fernando Alves, médico do Hospital Santa Lúcia Sul e da clínica Tres61, afirma que a dose deve ser aumentada aos poucos e que o remédio pode causar a sensação de estar cheio e com refluxo.

Há também relatos de pessoas que mudaram seus hábitos alimentares depois do início do tratamento. Comidas que despertavam o seu desejo, como doces, frituras e café, “perderam a graça”. Por outro lado, alimentos saudáveis se tornaram mais apetitosos. Uma paciente contou que perdeu a vontade de comer frango frito e tomar café e, repentinamente, passou a ter vontade de salada de couve.

Estudos clínicos que testaram a semaglutida, principalmente com a dose mais alta, mostraram que os voluntários tinham tendencia a ter menos desejo por alimentos doces, salgados e gordurosos.

Travassos explica que a semaglutida tem um efeito amplo no corpo humano e o cérebro é uma área importante neste processo. O princípio ativo teria ação sobre o apetite hedônico, aquele que nos faz comer simplesmente pelo prazer e não pela necessidade.

“Esse efeito foi identificado no estudo. Alguns participantes tinham menos tendência a precisar desses alimentos. Provavelmente, a causa tem relação com o próprio mecanismo de ação da semaglutida”, considera o gerente médico da Novo Nordisk.

Recentemente, circulou na internet o relato de um homem que disse ter perdido a vontade de consumir bebidas alcoólicas após começar o tratamento para perda de peso. “Antes do remédio, eu não conseguia tomar só uma garrafa de cerveja. Tomava oito, dez, quase religiosamente”, disse o norte-americano Erin Bradley McAleer, de 43 anos, à revista Insider.

A relação entre o uso da semaglutida e a perda do interesse por bebidas alcoólicas ainda não foi estudada a fundo pela fabricante e não há dados que comprovem a relação. Travassos acredita que ela possa ser justificada por um mecanismo semelhante ao que ocorre com a alimentação pelo desejo.

“Esse mesmo processo poderia levar à diminuição da vontade de consumir álcool. Alguns estudos com animais mostram que houve a redução do consumo de etanol, mas não existem pesquisas que comprovem essa relação com humanos”, pondera.

O médico destaca que o medicamento não foi projetado para diminuir o alcoolismo e não deve ser usado deliberadamente com este fim.

O Ozempic está disponível no Brasil desde 2018 para o tratamento da diabetes, e só pode ser comercializado com receita médica. O medicamento é injetado sob a pele no abdômen, na coxa ou na parte superior do braço, e as doses são semanais.

A Food and Drug Administration (FDA), agência reguladora de medicamentos dos Estados Unidos, já aprovou a semaglutida para pessoas obesas ou com sobrepeso. Os estudos clínicos mostram que ela promove, em média, 16% de perda do peso corporal.

O endocrinologista Fernando Alves pondera que cada paciente tem que ser avaliado individualmente para atestar a necessidade da medicação. Quando é bem prescrita, não há necessidade de interrupção.

“E, geral, o tratamento da obesidade é crônico e tem que ser feito continuamente. Depois que o paciente perde peso, ele deve continuar com o acompanhamento para conseguir a parte mais difícil, que é a manutenção do peso sem o efeito sanfona”, explica.

Fonte: Bahia Notícias

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