Mercado de games que atraiu Magalu já fatura US$ 300 bi ao ano, mais do que filmes e música juntos

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Esqueça os filmes e a boa música. Os games são o nome do entretenimento hoje. Trata-se de um mercado que já soma US$ 300 bilhões ao ano, mais do que os US$ 110 bilhões da música, os US$ 122 bilhões da TV ou os cerca de US$ 40 bilhões do cinema juntos.

Os dados, que pertencem a uma pesquisa da consultoria americana Accenture, a qual a Folha teve acesso, encheram os olhos da varejista Magazine Luiza, que nesta quinta-feira (15) anunciou a compra do KaBuM!, o maior e-commerce de games e tecnologia do Brasil.

A compra, fechada por R$ 1 bilhão, é a maior aquisição da história da rede varejista no país, fundada em 1957 em Franca (SP). Nestes 64 anos de empresa, foram 38 aquisições. Mas desde que a companhia passou a ser comanda por Frederico Trajano, em 2016, a terceira geração da família, o ritmo de compras acelerou. Fred, como é conhecido, assumiu a missão de construir “o maior ecossistema digital do varejo brasileiro”.

Esse “ecossistema” consiste em reunir no grupo diferentes operações de comércio eletrônico –de livros a delivery de comida– e toda uma estrutura para que outros varejistas, de menor porte, possam ter 100% das suas necessidades atendidas dentro do marketplace do Magalu.

“Cada uma das aquisições do Magalu é muito bem calculada”, diz Felipe Olivieri, analista da Rio Gestão de Recursos.

“É como se a companhia montasse um grande quebra-cabeças: o KaBuM! aumenta sua presença no mundo dos gamers, onde ela já tinha entrado com a compra do Jovem Nerd, este ano”, lembra. “A empresa une conteúdo e venda de softwares e hardwares, aumentando o tempo que o cliente fica online, conectado com ela”.

“É um movimento que os coloca mais perto de grandes players globais do comércio eletrônico, como Amazon e Mercado Livre”, diz a analista Fernanda Rodrigues, da consultoria Lafis.

André Pimentel, sócio da consultoria Performa Partners, diz que, no mundo, são poucas as empresas que têm fôlego para montar um ecossistema deste nível. “O Magalu é único na América Latina, só comparável à Amazon e ao Alibaba em nível mundial”, diz.

Para Pimentel, embora a maior parte das empresas que passaram a integrar o ecossistema do Magalu nos últimos dois anos seja de pequeno porte, existe um desafio para a varejista. “Ela precisa criar sinergias entre todas essas empresas adquiridas, para ganhar em escala”, diz. “A fintech Bit55 e o KaBuM! fecharem negócios, por exemplo, que sejam vantajosos a ambas e beneficiem o grupo”.

O KaBuM!, porém, está longe de ser um negócio pequeno. Fundado em 2003, tem 2 milhões de clientes ativos. No ano passado, as vendas cresceram 128% em relação a 2019 e atingiram R$ 3,4 bilhões, com lucro líquido de R$ 312 milhões. A empresa criou uma das maiores equipes de League of Legends do país, a KaBuM! Esportes, tetracampeã nacional e a primeira representante brasileira no campeonato mundial, sendo uma das precursoras em esportes eletrônicos no Brasil.

Na opinião do consultor Alberto Serrentino, da Varese Retail, o Magalu está em uma escalada. “Eles precisam trabalhar todas essas plataformas de serviços, meios de pagamento, tecnologia, logística e a capacidade de capturar a base de clientes, recorrência e gerar maior engajamento para todo o ecossistema”, diz. “Traz uma base de clientes grande, de um segmento que estão perseguindo há um tempo”

Luís Bonilauri, diretor executivo de mídia e entretenimento da Accenture, destaca que o interesse pelo mercado de games é global –a Netflix, por exemplo, vai explorar este negócio, informou a Bloomberg.

Segundo Bonilauri, a estimativa da consultoria de que o mercado movimenta US$ 300 bilhões engloba os softwares e hardwares (console) dos jogos, a publicidade dentro dos jogos, além dos torneios eletrônicos (eSports), os jogos online e os equipamentos necessários para turbinar o PC dos jogadores.

“A simulação perfeita de castelos e florestas, que fazem com que o jogador se sinta dentro do ambiente, faz parte de uma indústria muito sofisticada e cara, com atores, diretores, recursos cinematográficos, trilhas sonoras, que competem com Hollywood”, diz Bonilauri, destacando o potencial da indústria com o social commerce, a venda dentro dos jogos. “Este é o perfil do consumidor de hoje e do futuro”.

Follow-on dá folga de caixa para varejista prosseguir com aquisições

Os recursos para a compra do KaBuM! vêm de uma oferta de ações (follow-on ) de 150 milhões de papéis, também anunciada nesta quinta.

Considerando o preço de fechamento dos papéis do Magalu desta quinta-feira, R$ 23,72 (alta de 3,45%), a oferta deve arrecadar R$ 3,5 bilhões. Hoje a companhia vale R$ 154 bilhões na Bolsa.

Segundo o Magalu, o valor total das aquisição será pago em três fases: a primeira, à vista, de R$ 1 bilhão; a segunda com a transferência de 75 milhões de ações ordinárias da empresa, ao longo de um ano e meio; e a terceira etapa, de até 50 milhões de ações, em janeiro de 2024 e de acordo com o cumprimento de metas pelo KaBuM!.

“São compras estratégicas de ativos que, juntos, têm grande sinergia. Cada uma das aquisições se amarram no Magalu”, diz Gabriela Chiarini, analista da SFA (Seeking for Alpha Investimentos), ressaltando o diálogo da empresa com as plataformas de comunicação Jovem Nerd e o Canal Tech.

De acordo com a analista, a estrutura de capital do Magalu está adequada e apta para novas aquisições. A varejista tem uma dívida líquida negativa, ou seja, mais dinheiro em caixa (cerca de R$ 1,5 bilhão) do que dívidas. Além disso, o follow-on, que pode chegar a R$ 4,6 bilhões com os lotes adicionais, deve reforçar ainda mais o poder de compra da companhia.

Bruno Komura, estrategista da Ouro Preto Investimentos, concorda que a captação vai permitir que a empresa continue com as aquisições, consolidando diferentes frentes. “O Magalu vai caminhar no sentido de facilitar a vida dos sellers [os pequenos varejistas dentro do seu marketplace]”, diz ele, lembrando a nova fronteira de competição com outros grandes varejistas brasileiros, como Via e Americanas.

Segundo Mario Mariante, analista chefe da Planner Corretora, o Magazine Luiza encerrou o primeiro trimestre deste ano com uma divida liquida de R$ 284,5 milhões. Se consideradas os R$ 4,51 bilhões de contas a receber nos cartões de crédito, a posição vai para caixa liquido de R$ 4,22 bilhões.

“Desta forma, a aquisição não deverá ter peso para a empresa que estará também fazendo a captação com follow-on que vai engordar seu caixa”, diz Mariante.

“A aquisição do KaBuM! é mais uma tacada do Magalu no sentido de reforçar o pilar estratégico de novas categorias, aumentando a sua já ampla gama de produtos e serviços num negócio com grande mercado no Brasil e potencial de crescimento”, afirma Mariante. “O setor do KabuM, [tecnologia e games] alcança um público enorme que tem apetite e fidelidade na busca de novos lançamentos e por acessórios”.

Informações: Folhapress

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