Oito anos após virar manchetes em vários veículos de comunicação por desistir da identidade feminina e se reconhecer como homem, Clécio Gomes, 47 anos, tem se mostrado firme em seu propósito, mesmo após passar por uma batalha de conflitos.
Natural de Conceição do Coité, interior baiano, o ex travesti conhecida por “Paulinha Lins”, passou por várias situações até se firmar na religião evangélica.
“Um mês após eu deixar de ser travesti, retornei e fui trabalhar em uma orla de Salvador e todos ficaram sabendo. Tentei voltar para igreja, mas, estava em uma batalha interna e com medo do que iria acontecer, pois, quem faz programa tem dificuldades para arrumar emprego”, relatou Clécio.
Entre idas e vindas, Clécio saiu da casa religiosa em 2017 e decidiu ir para Santa Catarina para trabalhar em um bordel.
“Minha cabeça estava a mil e não era aquilo que eu queria. Tentei fazer os programas nessa casa de prostituição, mas, não consegui e me ofereci para ser faxineiro do local. Estava em um turbilhão de sentimentos e aliava o trabalho com o uso excessivo de cocaína”, falou.
Ao saber o paradeiro do coiteense, uma pastora de Coité foi até o bordel e convenceu o rapaz a deixar o local.
“Fui convencido pela pastora e retornei para Coité, porém, fiquei uma temporada na zona rural por medo e vergonha das pessoas devido as minhas decisões”, disse.
Para Clécio a ‘virada de chave’ aconteceu meses depois, quando pensou até em tirar a própria vida.
“Foram quatro tentativas de acabar com aquela dor espiritual que eu estava sentindo e achava que a única maneira era encerrar minha vida. Deus acabou tocando o meu coração e no dia seguinte fui buscar a palavra divina e então comecei a minha cura espiritual”, afirma.
Atualmente Clécio se tornou pastor de uma igreja em sua cidade natal e casou com uma frequentadora da comunidade cristã.
Ele contou que quando era travesti foi casado com um rapaz durante 15 anos e no mesmo ano que decidiu mudar, o homem também se converteu e hoje é casado com uma mulher e possui 2 filhos.
“Por incrível que pareça, a pessoa frequenta a nossa igreja com seus familiares e são meus amigos e da minha esposa. Muitas pessoas não acreditam na nossa mudança e acham estranho o fato de duas pessoas que tiveram um passado ‘sujo’ estarem em um mesmo ambiente e pregando a palavra do Senhor”.
Igreja X Homossexual
Segundo Clécio, uma das missões mais difíceis é a aceitação de algumas pessoas e até sacerdotes que um ex homossexual está à frente de uma igreja.
“Os próprios pastores dizem como os cristãos vão na igreja do ‘travesti ou’vi@do”! Tentam me humilhar para me fazerem desistir da minha missão, mas, se nem Deus agradou todo mundo, quem dirá eu!”, lamenta.
Mesmo com os comentários negativos, Clécio diz não se abater, pois, somente ele sabe o que passou e o quanto a igreja transformou para seu bem-estar
“Sei que não posso apagar meu passado, mas, se o tempo voltasse, eu teria me inserido muito antes na igreja. Minha vida é completa e preenchida! A palavra do Senhor mudou e não me importo pelo que falam. O importante é o meu coração”, comenta.
Paternidade
Após sair do mundo ‘obscuro’, como ele considera, Clécio sonha em ser pai e revelou que sua esposa chegou a perder um bebê com 5 semanas de gestação.
“Sempre sonhei em ter minha família e graças a Deus, minha mulher entende minha história. Infelizmente perdemos essa criança durante a gestação, mas, estamos na tentativa e tenho fé em Deus que iremos conseguir ter nosso filho (a)”, concluiu.
Por Rafaela Rodrigues
Foto: Arquivo Pessoal
