O vice-presidente Hamilton Mourão afirmou nesta quinta-feira (24) que o Brasil não concorda com a invasão da Rússia à Ucrânia.
O presidente Jair Bolsonaro, por sua vez, ainda não se pronunciou sobre o tema. Ele conversou, como de costume, com apoiadores no cercadinho do Palácio da Alvorada. Não mencionou a invasão russa. Depois viajou para São José do Rio Preto (SP), onde participou de passeio de moto e fez um discurso de 20 minutos. Novamente, nada sobre a guerra no leste europeu.
Diante do silêncio de Bolsonaro sobre a invasão, até aqui, foi Mourão quem se posicionou
“O Brasil não está neutro. O Brasil deixou muito claro que ele respeita a soberania da Ucrânia. Então, o Brasil não concorda com uma invasão do território ucraniano. Isso é uma realidade”, afirmou Mourão na chegada ao Palácio do Planalto.
Mourão falou com a imprensa, na chegada ao Palácio do Planalto, sobre a invasão russa à Ucrânia — Foto: Guilherme Mazui/g1
A invasão começou na madrugada desta quinta-feira (24), no horário de Brasília, por ordem do presidente russo Vladimir Putin. Os russos invadiram a partir de vários pontos da fronteira. A ação gera uma crise militar e diplomática na Europa sem precedentes neste século.
Na semana passada, Bolsonaro fez viagem oficial à Rússia. Ao lado de Putin, Bolsonaro disse que é solidário à Rússia, sem especificar sobre o que se referia essa solidariedade. A declaração do presidente criou um desgaste para a diplomacia brasileira, em especial com os Estados Unidos.
Os jornalistas na entrada do Palácio do Planalto perguntaram como o vice-presidente avalia o ataque russo. Mourão é general da reserva.
“A gente tem que olhar sempre a história. A história ela ora se repete como farsa, ora se repete como tragédia. Nessa caso ela está se repetindo como tragédia”, respondeu Mourão.
Questionado sobre a ida de Bolsonaro à Rússia, quando o presidente ser solidário ao país e que Putin buscava a paz, Mourão não quis comentar.
“Eu não comento as palavras do presidente”, disse.
No fim da manhã desta quinta, o Palácio do Itamaraty publicou uma nota em que diz que o Brasil “apela” para o fim das hostilidades na Ucrânia.
“O Brasil apela à suspensão imediata das hostilidades e ao início de negociações conducentes a uma solução diplomática para a questão, com base nos Acordos de Minsk e que leve em conta os legítimos interesses de segurança de todas as partes envolvidas e a proteção da população civil”, afirmou o Ministério das Relações Exteriores.
Putin
O vice-presidente disse ainda que a Rússia tem uma tradição de expansão desde o império, que passou para o período da União Soviética. Segundo ele, a Rússia volta a buscar esses interesses com Putin.
“O mundo ocidental está igual ficou em 38 com Hitler, na base do apaziguamento. O Putin, ele não respeito o apaziguamento. Essa é a verdade. Se não houver uma ação bem significativa …E na minha visão meras sanções econômicas, que é uma forma intermediária de intervenção, não funcionam”, completou Mourão.
Medidas de contenção
Mourão afirmou que o sistema internacional pode ser “rachado”. Perguntado sobre o que deve ser feito, o vice defendeu o uso da força, superior ao usado até o momento. Caso a Rússia não seja contida, Mourão acredita que outros países serão invadido a exemplo do que Alemanha Nazista fez na Segunda Guerra.
“Se o mundo ocidental pura e simplesmente deixar que a Ucrânia caia por terra, o próximo vai ser a Moldávia, depois serão os estados bálticos e assim sucessivamente, igual a Alemanha hitlerista fez no final dos anos 30”, disse.
Assessor de Bolsonaro
Pelo Twitter, o assessor para assuntos internacionais de Bolsonaro, Filipe Martins, afirmou que o presidente e o governo acompanham “de perto” a situação na Ucrânia.
Martins disse que Bolsonaro está envolvido “na busca de soluções em linha com a tradição brasileira de defesa do primado do direito internacional, sobretudo os princípios da não intervenção, da soberania e da integridade territorial”.
Martins afirmou que os impactos do conflito poderão ser “muito nocivos” para o Brasil em razão do impacto nos preços de combustíveis e de alimentos”.
Ao menos 16 regiões da Ucrânia já foram atingidas pela Rússia, cujo presidente prometeu retaliação àqueles que tentarem interferir.
Em meio à crise com o Ocidente, a Rússia iniciou, nesta quinta-feira (24), um ataque à Ucrânia – e o Brasil, neste cenário, assume um posicionamento de “neutralidade à brasileira”, embora Jair Bolsonaro (PL) tenha afirmado, em recente visita ao país, ser “solidário à Rússia”. Especialista em direito internacional, Acácio Miranda Filho afirma que o encontro de Bolsonaro com o presidente russo, Vladimir Putin, acende o entendimento de que, sim, o Brasil tem um lado.
“Historicamente, [o Brasil] opta pela neutralidade. Mas, com isso [a visita], há uma certa tendência. E é, em tese, um lado errado. Já que é um ataque sem autorização da ONU [Organização das Nações Unidas] e realizado nesses moldes”, avalia Miranda. Ao menos 16 regiões da Ucrânia já foram atingidas pela Rússia, cujo presidente prometeu retaliação àqueles que tentarem interferir.
Nos bastidores, segundo reportagem do O Globo, membros do governo brasileiro relatam que a decisão do presidente russo de reconhecer a independência de regiões separatistas da Ucrânia faz com que o Brasil reflita sobre qual postura adotar. Na prática, contudo, não há qualquer declaração de Bolsonaro neste sentido. Por meio de nota emitida nesta quinta-feira, o Ministério das Relações Exteriores, por sua vez, pede “uma solução diplomática para a questão, com base nos Acordos de Minsk”. A pasta afirma que devem ser levados em conta “os legítimos interesses de segurança de todas as partes envolvidas e a proteção da população civil”.
Ao Metro1, Miranda explica que a guerra, para a Rússia, é muito mais comercial do que em nome de uma bandeira ideológica – que é justamente onde há a inclinação de Jair Bolsonaro para o lado Russo, defende o advogado. Com um governo que já demonstrou fragilidade em conflitos diversos, o Brasil pode sofrer as consequências deste conflito, acrescenta o advogado.
“Em tese, o Brasil não tem nada a ver com isso, mas é um posicionamento equivocado de Bolsonaro, porque temos muito mais relação com os Estados Unidos e União Europeia do que com a China [que já sinalizou apoio à Rússia]”, diz ele, ao acrescentar os entraves que envolvem a venda do gás russo à Europa, sobretudo à Alemanha, e os abalos que o conflito pode acarretar à economia mundial.
Um cenário mais distante, exemplifica Acácio Miranda, em que houvesse condições impostas pelos EUA e União Europeia, o Brasil estaria em maus lençóis. “Aí teríamos um problema grave, porque há uma relação substancial, mas acho que neste momento não acontecerá”. O especialista faz votos de que, por ora, os esforços sejam concentrados em salvaguardar os brasileiros residentes na Ucrânia.
Informações: G1 / Metro 1