Baiana de acarajé faz sucesso nas redes mostrando tradições alimentares da Bahia e atrai clientes pelo Brasil

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Maria Lúcia Sousa, 67, prova que não há limite de idade para se tornar um influencer. Conhecida como Negra Lu nas redes sociais, a baiana de acarajé – como nomeia seu ofício, que tem origem ancestral – começou a criar vídeos sobre a culinária baiana no Instagram e TikTok em 2020, com a pandemia. Hoje, ela acumula quase 230 mil seguidores nas redes e reúne seguidores de todo o Brasil. Muitos vão a Salvador (BA) e provam seu acarajé.

“Comecei fazendo dublagens nos vídeos e depois fui mostrando meu costume de comer”, diz ela, que descreve os hábitos africanos presentes nas refeições das famílias de Salvador. “Minha avó servia a comida numa bacia de onde todo mundo comia com a mão. Muitas famílias antigas têm esse hábito. Fiz um vídeo com medo de condenarem como anti-higiênico, mas, na verdade, ativou a memória afetiva das pessoas”, conta. Hoje, seu vídeo mais visto no TikTok tem 1,8 milhão de visualizações. Nele, Maria Lúcia mistura farinha a outros alimentos e come o prato com as mãos.

Em 2012, quando encerrou a carreira de funcionária pública no setor da educação, ela passou a vender acarajé na porta de casa, no bairro de Pau Miúdo, como um complemento à aposentadoria. “Mas sempre fiz comidas. Minha mãe também trabalhou no estado e fazia acarajé para complementar renda”, afirma.

Segundo Sousa, a produção e venda do acarajé é um dos trabalhos designados espiritualmente aos seguidores do candomblé. “Acarajé quer dizer ‘bola de fogo’. É uma comida de santo, de candomblé. Eu nunca pratiquei a religião porque precisa se dedicar, mas é no que acredito”, conta ela.

Maria Lúcia Sousa faz vídeos mostrando hábitos alimentares da Bahia — Foto: Divulgação

Maria Lúcia Sousa faz vídeos mostrando hábitos alimentares da Bahia — Foto: Divulgação

Empreendedora vende comida baiana em frente à sua casa, no bairro de Pau Miúdo, em Salvador (BA) — Foto: Divulgação

Empreendedora vende comida baiana em frente à sua casa, no bairro de Pau Miúdo, em Salvador (BA) — Foto: Divulgação

Sousa vende acarajés, vatapás e abarás em seu bairro, que chama de “favela”, apesar da denominação causar discórdia entre alguns conterrâneos. “Temos infraestrutura, boas casas e ruas asfaltadas. Mas o bairro surgiu como uma ocupação de terreno, por isso chamo assim”, justifica. Por questões de pertencimento, ela prefere não vender seu acarajé nos locais turísticos da cidade. “Não faço reajuste de preços desde a pandemia e meu lucro tem sido impactado por isso. Penso que se eu aumentar o preço, minha clientela não consegue pagar”, diz.

Por serem pratos que demandam um longo preparo, ela vende o acarajé apenas às sextas e aos sábados. Mesmo com a agenda enxuta, Sousa conta que, além dos moradores do bairro, tem recebido clientes que a conheceram pelos vídeos nas redes sociais. “Fiz amizade com uma seguidora de São Paulo, que veio me ver, e também já recebi seguidores baianos que moram nos Estados Unidos”, conta.

O próximo passo da empreendedora são as publicidades nas redes. Neste mês, ela fez ‘publis’ para o programa Mulheres de Favela, projeto de incentivo ao empreendedorismo feminino da Caixa Econômica Federal em parceria com Impact Hub e Central Única das Favelas (Cufa). “É uma oportunidade que surgiu e vou aproveitar”, diz ela sobre o trabalho como influenciadora.

Revista PEGN

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