Arquidiocese de Feira de Santana instala primeira paróquia quilombola do país em distrito

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A Arquidiocese de Feira de Santana, instalou no distrito da Matinha, a primeira paróquia quilombola do país. A localidade é o berço das comunidades negras, descendentes de escravos no município.

O padre Luiz diz que a criação da nova paróquia surgiu depois de ouvir lideranças, grupos locais e constatar a real situação deste lugar. A ideia, segundo ele, não é apenas envolver a comunidade nas questões litúrgicas, mas conhecer suas demandas, suas necessidades e apoiar as suas lutas sociais.

“Não há registros no Brasil de paróquias com sede em quilombos. Existem paróquias, inclusive no estado da Bahia, que tem vários quilombos no seu território, mas como sede paroquial em um quilombo essa é a primeira que se tem conhecimento, que de fato existe no país”, disse o pároco Luiz Antônio Brito.

De um passado bem distante, a expressão “Matinha dos pretos”, denominação que o distrito não ganhou por acaso. Era na localidade onde os escravos fugitivos se abrigavam.

“Muitos negros foram escravizados na fazenda da região e vieram buscar este local como um refúgio. A Matinha dos Pretos foi justamente por conta da luta de todo um contexto que está por trás desse nome”, disse o professor Valter Almeida.

Foi a resistência à escravidão que possibilitou o surgimento de um quilombo com traços e características ainda vistos atualmente. A negritude do distrito da Matinha está bem presente no cotidiano de seus habitantes, na religiosidade, no canto e na dança produzidos por dezenas de pessoas.

“É uma força cultural muito forte, uma cultura de raiz. O samba de roda é o mais conhecido, mas temos também a cultura do trabalho, a mandioca, o trabalho da troca das famílias em roças, a produção da agricultura familiar”, contou o professor.

Em 2014, o distrito da Matinha foi reconhecido como comunidade tradicional quilombola. Foi a segunda no município a receber esta certificação. A primeira foi a localidade de Lagoa Grande, no distrito de Maria Quitéria.

Para os moradores do distrito o reconhecimento oficializa a luta de um povo, na preservação da identidade, cultura e da própria história.

“O distrito da Matinha, embora oficialmente seja o distrito mais novo de Feira, mas historicamente e sobretudo nesse contexto da história da cultura afrodescendente, é bem antiga essa luta, desde o período colonial”, disse o professor Valter Almeida.

“É um povo com resiliência, mas um povo que tem muitos direitos negados. Por isso a luta tem que ser cada vez mais forte, cada vez mais articulada e a gente ver a necessidade de estar sempre buscando e lutando pelos direitos”.

O documento emitido pelo Ministério da Cultura, através da Fundação Cultural Palmares, garantiu a comunidade a titulação e detenção do território onde sempre viveu. Um dos objetivos da iniciativa foi também garantir aos moradores o acesso a políticas públicas.

Mesmo depois disso, ainda carente de muita coisa, o distrito da Matinha segue e promete continuar lutando pela melhoria da qualidade de vida dos moradores.

“Trabalhamos a defesa de direitos, buscamos projetos sociais na linha de Educação e aí nós temos a biblioteca, também com a escola reivindicando melhorias para escola, questão de Transporte, da Saúde e da Inclusão Produtiva. Para que tenhamos essa qualidade de vida precisamos produzir e consumir alimentos com qualidade”, contou a representante da Associação de Moradores da Matinha, Francisca das Virgens.

Uma luta que agora ganha o reforço bem mais próximo da igreja católica. Há três meses a Arquidiocese de Feira de Santana, implantou na localidade a primeira paróquia quilombola de todo o país, segundo a entidade.

A coordenadora da biblioteca Francisca Fonseca diz que se é para perpetuar as tradições, qualquer intervenção será bem vinda e sempre valerá a pena.

Na Associação dos Moradores, são muitos os projetos com este propósito. Um deles desenvolvido na biblioteca do distrito, oferece literatura voltada exclusivamente para a identidade negra.

A missão é conscientizar e envolver os mais jovens na perpetuação de todo este legado histórico.

Informações; G1

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