“Alguns empresários falavam que eu nunca ia fazer sucesso por ser cadeirante”, desabafa cantor do hit ‘Colinho de Papai’

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Apesar da lei que estabelece normas gerais e critérios básicos para a promoção da acessibilidade das pessoas portadoras de deficiência ou com mobilidade reduzida, e dá outras providências, o Brasil ainda não tem nenhuma cidade plenamente acessível.

. Segundo o Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE), a população com deficiência foi estimada em 18,6 milhões de pessoas, Os dados são do módulo Pessoas com deficiência, da Pnad Contínua 2022.

Em diversas áreas e no meio artístico, por exemplo, pouco se fala do que alguns artistas passam com a falta de acessibilidade e o preconceito por obterem alguma limitação ao tentar seguir seus sonhos.

Quem não se lembra da nostalgia do hit “Colinho de Papai” da banda de pagode baiano, O Rodo ? Há quase vinte anos, o cantor Marcos Santos Neves, conhecido por  “Kinho do Rodo”, foi um dos poucos artistas brasileiros ou talvez o único do “pagodão” com limitações que conseguiu fazer sucesso

Cadeirante, o soteropolitano que atualmente mora em Maceió encontrou na música um caminho para extravasar a alegria que mantinha o sorriso em seu rosto, enquanto superava cerca de 400 fraturas nas pernas durante a infância e adolescência. Ele tem osteogênese imperfeita, enfermidade de origem genética popularmente chamada de “doença dos ossos de vidro”.

Em entrevista ao Caldeirão do Paulão, Kinho contou que decidiu entrar para banda sob incentivo da sua mãe, porém, não tinha expectativas para assumir os vocais.

“Inicialmente fui inserido como produtor e tinha outro rapaz que cantava! Próximo ao um show, ele simplesmente nos deixou na mão e saiu da banda.  Como minha mãe sabia que eu gostava de cantar, veio a ideia para assumir a banda”, conta.

Na época, Kinho precisou ensaiar o repertório em apenas uma semana e mudar o nome do grupo para o recomeço.

“Era uma febre passar em Salvador e usar a expressão “passar o rodo”. A partir disso, foi fixado o nome da nossa banda e logo após entramos em estúdio para gravar o repertorio que incluía a música “Colinho de Papai”, relembra.

Mas, nem tudo são flores! Devido sua condição física, Kinho se sentiu inseguro pois, até mesmo alguns empresários não quiseram investir no rapaz pelo fato de ser cadeirante.

“Foi muito difícil! Sofri muito preconceito. Alguns empresários falavam que eu nunca ia fazer sucesso por ser um cantor cadeirante. Davam várias desculpas, mas, Deus e o povo abraçaram nosso projeto e chegamos a fazer 40 shows por mês por todo Brasil”, afirma.

Acessibilidade para cadeirante nos trios?

No berço onde concentra o maior carnaval de rua do mundo, Kinho conta que nunca teve problemas nas suas apresentações nos palcos e até mesmo no trio elétrico.

“Nunca tive tanto trabalho para subir aos palcos e trios pois, eu tinha um pouco mais de mobilidade, mesmo na cadeira de rodas.  Talvez por esse motivo que muitos músicos na condição de deficientes, preferem optar por um ritmo mais tranquilo que não necessita tanto esforço como por exemplo, Hebert Viana do Paralamas do Sucesso ou aqueles que preferem os barzinhos. No meu caso, era swingueira e tinha que arrastar a galera nos trios”, conta.

Ele acredita que seria bom a possibilidade de uma rampa em trios, mas, infelizmente a demanda é pequena para suprir essa necessidade.

“Foi colocado as rampas de acesso nos ônibus devido a quantidade de pessoas cadeirantes que precisam utilizar e é claro, por conta da lei! Acredito que no trio é algo aleatório e complicado para alguém colocar em prática a acessibilidade. Infelizmente tudo para um cadeirante é mais difícil! Até para tirar uma carteira de habilitação, o custo é maior. Imagina adaptar um trio? Acho difícil”, finaliza

Redação

Fotos: Arquivos Pessoal

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