PM que atirou em deficiente pede desculpas; vítima segue em coma

RTEmagicC_fdd33e2cb3.jpg

RTEmagicC_fdd33e2cb3.jpg

O soldado da Rondesp Central Eric Graupner, responsável pelo tiro que atingiu o empacotador Luís Vagner dos Santos Anunciação, 29 anos, na noite de terça-feira, durante uma operação no bairro da Boca da Mata, pediu desculpas à mãe do jovem, que está internado em coma, e se disse envergonhado pelo que fez. Em uma mensagem enviada ao celular de dona Valdemira dos Santos da Anunciação, Eric, que foi afastado das atividades, quis saber o estado de saúde de Luís.

A vítima é portadora de deficiência intelectual e levou um tiro de escopeta calibre 12 nas costas. “Sei que já estou causando muita dor a sua família, e estou muito envergonhado com toda essa situação. Estou orando pela recuperação dele. Só Deus sabe como estou arrependido”, disse, em mensagem que o CORREIO teve acesso. “Se precisarem de qualquer coisa, por favor me deixem ajudar. É o mínimo que posso fazer”, disse, em outra mensagem.

Luís continua internado em estado grave no Hospital Jaar Andrade, em Cajazeiras VIII. Segundo a assessoria de comunicação do hospital, ele foi submetido, no mesmo dia em que foi baleado, a procedimento cirúrgico de laparotomia exploratória, sendo identificadas lesões intra-abdominais. O paciente está na UTI, sedado, em ventilação mecânica controlada.

Ainda de acordo com o hospital, não há previsão de alta. Procurado pelo CORREIO, o soldado disse que só se pronunciará por meio de advogados. O coronel Souza Neto, que interinamente responde pela Corregedoria da Polícia Militar, não informou quantos policiais foram afastados – em nota, a PM divulgou na quarta-feira que os envolvidos na ação foram preventivamente afastados até a conclusão das investigações do Inquérito Policial Militar (IPM) instaurado.

Segundo a família de Luís, o soldado Eric estava numa operação com duas viaturas ocupadas por ele e mais sete PMs. Luís foi baleado na quadra D, pouco depois de chegar do trabalho – é funcionário de um supermercado na Calçada. Eram por volta das 20h40 e ele estava na frente do prédio, quando as guarnições da Rondesp deram início a uma abordagem a um grupo de rapazes.

Segundo os moradores, os PMs foram averiguar o fato de uma picape ter sido abandonada no local há dois dias. Luís e alguns amigos se aproximaram para ver a abordagem, mas os PMs não gostaram e foram na direção deles. O empacotador correu para o bloco.

RTEmagicC_33d7f03af6.jpg

A mãe, Valdemira, estava na janela apreensiva, junto com o filho caçula, Marcos Paulo, 24, quando percebeu que um policial se aproximava, sorrateiramente, enquanto Luís abria o portão do prédio. “Foi quando gritei para ele: ‘Ele é trabalhador! Ele é deficiente’. Mas o policial atirou assim mesmo”, contou a mulher.

Baleado, Luís ainda tentou impedir o acesso do policial ao prédio. Ele empurrava o portão, mas o PM conseguiu imprensá-lo na parede após pontapés. De acordo com a vizinha, Meiriele Portugal, 37, ao abrir a porta de casa, ela encontrou Luís ensanguentado e o PM só não atirou de novo porque ela insistiu em dizer que Luís era deficiente. O empacotador foi socorrido na guarnição para o Hospital Jaar Andrade.

Correio

OUTRAS NOTÍCIAS