Transexuais lutam para implantar serviço médico pelo SUS em Salvador

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“Nunca gostei dos meus intrusos”, dispara, agora cheio de confiança, João Hugo Cerqueira, 22. Ele, que trabalha como gerente no mercadinho do irmão, avisou para a mãe que iria para Brasília realizar um sonho. Saiu de Itinga, em Lauro de Freitas, com uma amiga, no último dia 8. No dia seguinte, já estava deitado numa das salas do Instituto de Cirurgia do Lago, na capital federal, onde fez uma mamoplastia masculinizadora – cirurgia para retirada dos seios. E os intrusos foram embora na segunda, dia 9.

O procedimento, feito com o cirurgião plástico Erick Carpaneda, referência para homens trans, custou R$ 10 mil, incluindo passagens para Brasília. João levantou a grana por quase cinco meses, juntando economia até de uma vaquinha online. Mas, de volta à Bahia, é com os conselhos de amigas enfermeiras que ele se vira no pós-operatório.

A capital não tem um ambulatório especializado no atendimento a transgêneros e transexuais nem possui centros habilitados para as cirurgias. O drama vivido por João Hugo e por outros homens e mulheres trans na Bahia é acompanhado pelo grupo formado em Salvador por 32 mães e três pais de jovens gays – o Mães pela Diversidade.

Eles lutam junto com a equipe médica do Hospital Universitário Professor Edgard Santos (Hupes), da Universidade Federal da Bahia (Ufba), para que a unidade consiga a habilitação do Ministério da Saúde para criar um ambulatório transgênero.

O grupo, que abre hoje a Parada Gay de São Paulo, recentemente conseguiu a abertura do Centro de Referência Municipal LGBT. Com o ambulatório, a população trans de Salvador teria acesso a atendimento especializado – mas não à Atenção Básica.

Para a coordenadora do Mães pela Diversidade na Bahia, Inês Silva, a abertura do ambulatório é urgente. “Já temos algumas pessoas da equipe e existe uma pressão da Defensoria Pública, do Ministério Público e da Mães. Conseguimos cinco cirurgias para homens trans em Brasília, mas isso é papel do Estado. Muitos aplicam hormônios indiscriminadamente”, diz Inês.

O estudante de Educação Física Bruno Santana, 27, que integra o Instituto Brasileiro de Transmasculinidades (Ibrat) na Bahia e é um dos cinco jovens baianos acompanhados pelo grupo, acredita na mobilização. “Tenho muito medo por causa desse retrocesso político que a gente tem visto. Mas, se depender do movimento social, sai ainda este ano”, diz.

Bruno fez a mesma cirurgia que João Hugo em janeiro, também em Brasília. E também teve medo do pós-operatório. “Voltei pensando em como seria a retirada dos pontos em Salvador, por medo de ser mais uma vez violentado e desrespeitado nas unidades de saúde. Consegui por indicação da minha sogra uma enfermeira particular”, conta.

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