Toninho Geraes processa Adele por plágio de ‘Mulheres’, sucesso de Martinho da Vila: ‘Quando ouvi fiquei assustado’

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Autor de sucessos de Agepê (“Me leva”, “Virou mania”), Zeca Pagodinho (“Seu balancê”, “Uma prova de amor”) e Diogo Nogueira (“Alma boêmia”, “Se a fila andar”), o sambista Toninho Geraes entrou numa disputa judicial internacional por causa de uma das suas composições mais conhecidas, “Mulheres”, imortalizada na voz de Martinho da Vila no álbum “Tá delícia, tá gostoso” (1995).

Mineiro de Belo Horizonte radicado no Rio, Geraes está processando a cantora britânica Adele, alegando que “Million years ago”, lançada no álbum “25” (2015) é um plágio de “Mulheres”. O advogado do compositor, Fredímio Biasotto Trotta, enviou em fevereiro duas notificações extrajudiciais à cantora, à gravadora XL Recording, à Sony Music, e ao produtor e coautor da faixa, o americano Greg Kurstin — que já trabalhou com Paul McCartney, Pink e Foo Fighters, e desde 2006 forma o duo de indie pop The Bird and the Bee com Inara George.

Segundo Geraes, quem apontou as semelhanças entre as duas canções foi Misael da Hora, filho de Rildo Hora, autor do arranjo de “Mulheres” na gravação de Simone e figura carimbada nos créditos dos álbuns dos maiores sambistas do país.

— Um dia encontrei o Misael em Copacabana e dei uma carona para ele até Ipanema, e ele me disse que ia mesmo me ligar para perguntar se eu já tinha ouvido essa música da Adele. Disse que não, e ele contou que, quando ouviu, achou até que era uma versão de “Mulheres” — conta Geraes. — Quando ouvi fiquei assustado, até o arranjo de piano do Rildo foi copiado. Pensei muito até procurar o dr. Fredímio, que além de advogado também tem formação musical, e viu que caracterizava plágio.

Na ação, o advogado contabilizou 88 compassos idênticos, similares ou com pequenas variações entre as duas canções, além de trechos da introdução, refrão e o final da música. Após o primeiro contato com as partes acusadas, houve retorno apenas da Sony brasileira,  alegando que “esse assunto está atualmente nas mãos da XL Recordings e da própria Adele, já que a Sony Music era apenas distribuidora desse fonograma no Brasil, cujo contrato, inclusive, já está expirado”. O advogado decidiu tornar o processo público, diante da ausência de respostas das partes acusadas.  Trotta deve entrar com a ação contra a cantora, a XL Recording e Kurstin em Londres, possivelmente no início de outubro, quando laudos feitos por músicos e maestros ficarão prontos.

— Acredito que este seja um caso ainda mais evidente que o de Rod Stewart e Jorge Ben Jor (o inglês admitiu  “plágio inconsciente” do refrão de “Taj Mahal”, na música “Do ya think I’m sexy”, num acordo extrajudicial).  Neste caso, várias partes da música foram apenas passadas de um compasso de samba para o de uma balada pop — explica Trotta, que toca violão, teclado e integrou o grupo vocal Maite-Tchu, que se apresentou regularmente entre os anos 1980 e 1990.

A notificação também conta com 40 depoimentos colhidos como “teste do observador comum”, de forma a demonstrar com até um leigo em música consegue perceber o plágio, reforçando características mais evidentes de uma possível cópia.

Geraes, que também se projetou como cantor, em shows solo ou ao lado de parceiros, como Moacyr Luz, ressalta que “Mulheres” ganhou versões em francês e espanhol, aumentando a circulação da música fora do Brasil.

— A gente não consegue imaginar o que se passa nestes casos, se uma pessoa pensa: “Ah, é um cara lá do Brasil, não vai perceber”. Se fosse comigo, eu seria o primeiro a querer resolver a situação, mas essa conversa com a gente não aconteceu ainda.

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