“Todo culto pode ser feito online. Quem abre a igreja é por dinheiro”, diz pastor batista na Bahia

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Brian Kibuuka, pastor batista na Bahia, lembra que líderes religiosos que pressionam pela liberação são minoria.

A realização de cultos presenciais em meio à pandemia de covid-19 foi um dos assuntos mais debatidos do final de semana. No último dia 4, véspera da Páscoa, o ministro Nunes Marques, do Supremo Tribunal Federal (STF), determinou em decisão liminar que estados e municípios não podem editar normas de combate ao novo coronavírus que proíbam completamente celebrações religiosas presenciais, como cultos e missas.

Para entender quais as alternativas ao culto presencial nas igrejas protestantes, a reportagem conversou com pastores que suspenderam as atividades presenciais há mais de um ano, para preservar a vida.

Brian Kibuuka, pastor batista em Feira de Santana (BA), avalia que todos os elementos litúrgicos, que fazem parte das práticas cristãs, podem ser feitos remotamente.

“Fizemos o culto de Páscoa todo online, com todas as mensagens, a parte musical, a celebração da ceia. Tudo isso foi feito de forma participativa e remota, e não impediu em nada a nossa comunhão e a nossa integração”, ressalta.

A comunhão foi feita em cada casa, com pão e suco de uva.

“A gente prefere ter o prejuízo do abraço, do toque, do que perder a vida. A pandemia vai passar, nós vamos nos abraçar, apertar as mãos, ter toda a comunhão que queremos. Mas, depois que a pessoa morre, não tem mais. Então, a opção é pela vida”, completa Kibuuka.

Maioria respeita as recomendações sanitárias

O pastor Ariovaldo Ramos, da Comunidade Evangélica Cristã Reformada, em São Paulo (SP), conta que os cultos presenciais foram interrompidos em fevereiro de 2020.

“A fé cristã não precisa da presencialidade para ser vivida. Se a comunidade sabe o que fazer, pronto”, lembra. “Mas, esse grupo que protesta [pela liberação dos cultos presenciais], eles não têm comunidade: têm massa. E a massa precisa ser manipulada todo dia para responder à altura da ganância dos seus manipuladores.”

Entre os pastores que têm feito pressão sobre o governo Bolsonaro para liberação do culto presencial estão Edir Macedo, da Igreja Universal do Reino de Deus (IURD), e Silas Malafaia, da Assembleia de Deus Vitória em Cristo.

Ramos concorda que todo rito litúrgico pode ser realizado remotamente, sem nenhum prejuízo.

“Aqueles [ritos] específicos que não podem ser feitos virtualmente, como o batismo, devem esperar. Não tem nenhuma pressa. Não faz nenhuma diferença batizar hoje ou daqui a um ano, por exemplo”, enfatiza o pastor, membro da Frente de Evangélicos pelo Estado de Direito.

Brian Kibuuka, de Feira de Santana (BA), afirma que a crítica aos protestantes não pode ser generalizada, uma vez que a maioria respeita as normas sanitárias.

“Quem mantém suas atividades presenciais são uma minoria. São igrejas que baseiam seu culto em um rito mais performático, cujo objetivo é conseguir dinheiro, lucro. Faz-se um espetáculo para induzir a pessoa a contribuir financeiramente, e nesse caso o culto virtual torna-se um prejuízo para elas”, explica.

“Nas igrejas que não veem problema em receber transferência bancária, em que já há um senso de compromisso da comunidade, o culto não precisa ser presencial”, reforça.

Ao citar a possibilidade – que nem todas igrejas têm  – de receber transferência bancária, Kibuuka lembra que já atuou em comunidades controladas por milícias na zona oeste do Rio de Janeiro. Em uma delas, um pastor foi preso em 2012, acusado de arrecadar dinheiro de maneira ilícita para organizações criminosas.

“Era uma ruazinha pequena, com uma portinha, e cabiam dez pessoas, no máximo. Era uma igreja que não tinha ninguém, que servia para lavagem de dinheiro, e o pastor era a conexão com a milícia”, relata.

Os dois pastores reafirmam que não há nenhuma justificativa bíblica para a decisão do ministro do STF no último dia 4.

“O ministro Kassio [Nunes Marques] errou retumbantemente, não só porque se contrapôs à própria Corte, mas porque foi de uma insensibilidade atroz diante do quadro brasileiro, de aumento significativo das mortes, colapso hospitalar, colapso funerário”, lamenta Ariovaldo Ramos. “Não consigo entender que haja evangélicos apoiando isso, a não ser aqueles que são manipuladores de massas e querem ganhar dinheiro mesmo.”

“A Bíblia diz que o bom pastor dá a vida pelas ovelhas, e não cobra a vida das ovelhas. Nada justifica provocar uma situação de perigo, um perigo fatal. Em nome de Deus, de Cristo? Nem pensar. É só ganância, ou então equívoco ideológico”, finaliza o pastor.

Informações: Brasil de Fato

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