“Senti que minha filha era só um número para a escola”, desabafa mãe de menina que foi passada de ano sem aprender a ler e escrever

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Valentyna Arthur Mariz, de 7 anos, estava animada no início de 2020 para começar uma nova etapa: aprender a ler e a escrever. Como tantas crianças da sua idade, a pequena estudante encarou o desafio de estudar com as aulas online durante a pandemia e o resultado não foi satisfatório.

“Minha filha passou para o segundo ano sem saber ler”, desabafa a mãe, Tansyn Arthur. “Não tive apoio nesse processo, senti que para a escola a minha filha era só um número.”

A questão da alfabetização tem preocupado pais e especialistas. “Sabíamos que todo esse processo teria um impacto na Educação, até porque a maioria das escolas não estava preparada para o ensino remoto, mas a alfabetização, que já era deficiente no Brasil, preocupa ainda mais”, avalia a psicopedagoga Ivone Scatolin.

Estudos divulgados recentemente pelo governo do estado de São Paulo e pelo Unicef (Fundo das Nações Unidas para a Infância) apontam prejuízos no aprendizado de crianças e adolescentes. Segundo sondagem feita pela Seduc (Secretaria de Estado da Educação) houve regressão no aprendizado de português e matemática. O governo estima levar 11 anos para recuperar a aprendizagem perdida em matemática durante a pandemia nos anos iniciais do ensino fundamental.

O relatório apresentado pelo Unicef em parceria com o Cenpec Educação (Centro de Estudos e Pesquisas em Educação, Cultura e Ação Comunitária) mostra que em novembro de 2020 mais de 5 milhões de meninas e meninos não tiveram acesso à educação no país. Crianças e adolescentes em situação de vulnerabilidade foram os mais afetados.

Ivone atestou essa realidade em um trabalho realizado em Paraisópolis, na zona sul da capital paulista, no projeto Educação Cidadã do hospital Albert Einstein. “Vi que algumas crianças não participaram de nenhuma atividade escolar por falta de aparelhos ou de apoio”, conta.

Mesmo com acesso à tecnologia, apoio dos pais e estudando em uma escola particular, Valentyna também não avançou no processo de alfabetização. “Eu sempre incentivei a Valentyna a brincar longe dos eletrônicos e ela precisou se adaptar muito para conseguir acompanhar as aulas online, ela não estava familiarizada ao computador”, explica a mãe, Tansyn Arthur.

Outro problema foi manter o foco na aula diante de uma tela. “Além dela não estar acostumada a ficar tantas horas em frente um computador, a escola não tinha estrutura, as crianças ficavam agitadas, a professora não conseguia explicar, a conexão com a internet caía”, descreve. “Enquanto eu fiquei ao lado dela consegui ajudar, mas tive de retornar ao trabalho presencial e tudo ficou mais difícil.”

Tansyn, que é supervisora comercial, levava a filha para o trabalho na tentativa de acompanhar as aulas, sem sucesso. “Em agosto, procurei a coordenação da escola, mas como a conversa era por whatsapp, não tive retorno”, diz. “No fim do ano, vendo que a Valentyna não tinha evoluído, pedi para que ela fosse reprovada porque sei o quanto é importante esse processo de alfabetização para toda a vida da criança, mas a escola não permitiu.”

Neste ano, a saga continua. “Sem as aulas presenciais, a Valentyna pouco evoluiu, a escola se propôs a dar aulas de reforço, mas mesmo assim não tenho apoio, tento estudar com ela a noite, procurei no Google como ensinar a ler em casa, estou realmente muito preocupada e sem saber como ajudar.”

Orientação

Para a psicopedagoga Ivone Scatolin, para as família que puderem, o apoio dos pais é fundamental. “Todos os momentos devem ser aproveitados para o letramento e para o ensino da matemática”, orienta. “Mostrar rótulos de embalagens, arrumar a mesa e contar quantos pratos e talheres são necessários ajuda a criança a ler palavras e entender os números.”

“A criança pode ajudar com as listas de supermecado, anotando o que precisa, também vale brincar de stop, cruzadinha ou forca porque brincar é uma forma de aprender.”

Ivone explica que as “crianças precisam pensar sobre a palavra, vale imprimir as letras no computador e junto com as crianças formar palavras também pode auxiliar”.

“A leitura é fudamental, ler para as crianças, deixar os livros acessíveis facilita o processo de alfabetização, assim como o exemplo dos pais lendo,” conclui.

Informações: R7

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