“Quanto mais proíbem, mais as pessoas querem ver”, afirma Wagner Moura sobre estreia de ‘Marighella’

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Após cerca de três anos de sua produção, Marighella finalmente chegará aos cinemas. Protagonizado por Seu Jorge e dirigido pelo baiano Wagner Moura, o longa deveria ser lançado em 2019, mas, segundo Moura, foi vítima de censura por parte do governo. Depois de muita espera, o filme estreia no próximo dia 4 de novembro. A data marca os 52 anos do assassinato do guerrilheiro brasileiro.

Essa é a primeira vez que Wagner Moura, mais conhecido por estrelar o filme “Tropa de Elite”, trabalha como diretor. A produção, que vai do drama à ação, conta justamente sobre o período mais conturbado e radical da vida do militante comunista.

Confira a entrevista completa:

BNews – Como foi o processo de se adequar à função de diretor, já tendo uma carreira já consolidada na atuação?

Wagner Moura – Eu não me considero um diretor. Acho que estou mais pra um ator que dirige mesmo. Me comportei no filme quase que da mesma forma de quando estou atuando. O tempo todo ali participando e inserido nas coisas. Filmei esse filme da forma como gosto de ser filmado, com a câmera perto dos atores. É como se eu estivesse naqueles personagens.

BNews – De onde surgiu o desejo de contar a história de Marighella nos cinemas?

W.M – Da minha grande admiração por ele, que sempre foi uma figura que lutou pelo direito dos mais pobres, dos trabalhadores e das minorias. Eu sou baiano e aqui, em Salvador, cresci tendo ele como referência de resistência. Era um nome importante na Bahia para quem se interessava pelas lutas de resistência. Eu sempre fui fascinado por revoltas populares. É a parte da nossa história que tenho maior interesse. E, como ator, sempre fui muito interessado no trabalho que vai além do set. Desejo trabalhos que me desafiem artisticamente, como é o caso dessa obra.

BNews – Existem planos para o filme ser adaptado para uma série de TV?

W.M – Sim, existe um contrato com a Globo. Mas, isso ainda vai demorar muito. Antes de ir para a TV aberta ele passa nos cinemas, depois vai para o Streaming, onde passará um bom tempo. Aí depois será readaptado, vamos ter que cortar algumas coisas. No fim das contas, é um outro produto. O filme original é esse que vai estrear no dia 4, porque ‘Marighella’ é uma obra feita para o cinema. Por isso toda a minha luta para que ele fosse exibido. É uma necessidade artística.

BNews – A demora pela estreia nos cinemas brasileiros pode ser considerada, do seu ponto de vista, como um episódio de censura e de pressão da gestão da (Ancine) no governo Bolsonaro?

W.M – Foi um episódio claro de censura por parte do governo, contextualizado por todas as declarações de Bolsonaro de que a Ancine precisava de uma ‘filtragem’. Não dá pra desassociar o ódio que esses caras tem da cultura em geral, sobretudo em uma obra como a minha, que é fala de um cara que combateu a ditadura da qual eles são fãs.

BNews –  Diante do atual contexto político do país, para você, qual a importância de que ‘Marighella’ seja lançado neste ano?

W.M – Pra começar, eu acho que os ataques que o governo emprega contra o ‘Marighella’, dizem mais sobre eles do que sobre o filme. Sobre esse momento de censura que nosso país vem enfrentando. Mentira e desinformação precisam ser levadas a sério e combatidas pedagogicamente, não se pode mais rir de sandices. É preciso levar a sério e reagir imediatamente. Eu nunca tive medo de me posicionar ou dizer o que eu penso.  E eu digo e repito, a gente precisa fazer alguma coisa para passar por cima dessa fase dolorosa.

BNews – Na sua avaliação, o que pode vir a ser a produção cultural no Brasil nos próximos anos?

W.M – Triste do país que faz dos seus artistas inimigos do povo. Os artistas, que são historicamente ligados a um pensamento mais progressista, são os primeiros a serem atacados como inimigos. Quando falo de cultura não falo só de produção artística, mas de tudo que eles querem destruir. Cultura LGBT, cultura quilombola, cultura indígena, tudo isso é o que é um país. É o que faz qualquer país decente se desenvolver com autonomia. Mas, infelizmente, estamos vivendo momentos difíceis no Brasil, de muito extremismo e violência.

BNews  –  Por fim, como você acha que ‘Marighella’ será recebido pelo público e pela crítica?

W.M – Acredito que muito bem, porque é um filme, modéstia a parte, muito bom! Todos nós sabemos a importância que essa obra tem, politicamente, no Brasil. Mesmo que a gente tire esse elemento, se é que é possível, artisticamente, o que vivenciamos foi uma das experiências mais profundas que tive. Ver o que os atores estavam me entregando foi uma coisa de outro mundo. E é aquela coisa, né? Quanto mais proíbem, mais as pessoas querem ver.

Informações: BNews

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