Preparador físico se alimenta apenas de carnes cruas, como cérebros, fígados e testículos, e viraliza no TikTok

arte-60

Uma dieta um tanto inusitada tem atraído milhões de pessoas para assistir aos vídeos publicados pelo preparador físico Weam Breiche, de 31 anos, no TikTok. O morador de Los Angeles, nos Estados Unidos, compartilha a sua rotina alimentar baseada em muita carne, mas com um detalhe: todas elas são cruas. Para o café da manhã, por exemplo, Weam costuma preparar uma refeição com cérebro de bezerro e seis ovos, ambos crus, como mostra em um vídeo que já ultrapassa uma audiência de oito milhões de usuários. A prática, no entanto, pode ser perigosa, destacam os especialistas.

“Tem gosto de sushi. Como você come sashimi de salmão e acha que está tudo bem só porque é legal? Tem o mesmo gosto”, defende o preparador físico em uma de suas postagens no TikTok.

Ele conta que hoje sua alimentação é de cerca de 4.500 calorias por dia, 90% composta por carnes cruas. Entre elas, cortes incomuns, como fígados, rins, cérebros, tutano e até testículos. A aparência e os hábitos considerados selvagens renderam a ele o apelido de “Wolverine da vida real”, e seus vídeos são recebidos com espanto pelos usuários da rede social.

Em uma das publicações, Weam fala sobre uma suposta facilidade na digestão de carne crua. “Com uma refeição assim, você pode comer quase 1.200 calorias e cinco minutos depois ir treinar sem ficar arrotando e sentindo que você não consegue se mover. Com carne crua, você pode fazer isso toda vez”, diz o morador de Los Angeles.

A lógica, porém, é justamente o inverso, explica a nutricionista Priscilla Primi, colunista de O GLOBO e mestre pela Faculdade de Saúde Pública da Universidade de São Paulo (USP):

— O cozimento é uma técnica utilizada justamente para facilitar a digestão. Isso porque o corpo digere a proteína em partículas menores, os aminoácidos, e o cozimento atua num processo chamado desnaturação proteica, que já começa a quebrar essas cadeias de proteína antes da ingestão, para ficar mais fácil depois — diz Priscilla.

A especialista destaca ainda que uma dieta como a de Weam pode oferecer sérios riscos à saúde e, ao contrário do que defende o preparador físico, não oferece nenhum real benefício para o corpo humano.

— É muito perigoso. Quando você come algo cru, principalmente carne, que é um produto muito perecível, tem um risco alto de proliferação de microrganismos. Quando você cozinha, muitos desses microrganismos morrem, o que não acontece na carne crua e pode provocar uma infecção grave — ressalta a nutricionista, que acrescenta: — Também não tem benefício nenhum comer algo cru em relação a cozido, não tem mais valor proteico ou maior quantidade de nutrientes. A única diferença mesmo é o sabor.

Sobre o risco de ingerir microrganismos danosos para o corpo, como bactérias consideradas ruins, Weam diz que “um intestino saudável é totalmente capaz de destruir bactérias nocivas”. No entanto, Priscila afirma que não há microbiota, por mais saudável que seja, que consiga matar certos tipos de bactérias que contaminam alimentos crus.

A nutricionista destaca também que os perigos dos hábitos de Weam são todos associados apenas aos alimentos não passarem por um processo de cozimento, e que o fato de muitos dos órgãos que aparecem nos vídeos do preparador físico não serem considerados tradicionais, como cérebro e rins, não oferece riscos à saúde.

— Todos os órgãos são uma boa fonte proteica, então tem o lado de desmistificar a ingestão daqueles que não são comuns na alimentação, como testículos, rins e cérebro — diz Priscilla.

Os vídeos publicados na conta de Weam podem ser considerados mais sensíveis para algumas pessoas, e a conta já foi inclusive suspensa temporariamente pelo TikTok pela plataforma ter entendido que o conteúdo dos vídeos trazia “atos e desafios perigosos”, o que viola as diretrizes da plataforma.

Ao jornal britânico Daily Mail, o preparador físico conta que tem o hábito de se alimentar com carnes cruas desde que era pequeno, mas que chegou a tentar uma dieta apenas à base de plantas por acreditar, na época, que melhoraria sua saúde física e mental. Porém, segundo Weam, a alimentação vegetariana provocou uma inflamação em seu corpo, o que o motivou a voltar a se alimentar estritamente com carnes cruas.

Priscilla explica, no entanto, que uma dieta feita de vegetais não provoca danos diretos à saúde e que eles não são capazes de causar uma inflamação. Para a nutricionista, o que pode ter acontecido é que as necessidades do corpo não foram devidamente equilibradas ao deixar de ingerir carne animal.

— Você tem muitas outras maneiras de repor as proteínas e nutrientes que estão na carne animal. Então, se você muda para uma alimentação vegetariana, e não faz esse balanceamento, pode ter riscos — reforça a nutricionista.

A lógica, porém, é justamente o inverso, explica a nutricionista Priscilla Primi, colunista de O GLOBO e mestre pela Faculdade de Saúde Pública da Universidade de São Paulo (USP):

— O cozimento é uma técnica utilizada justamente para facilitar a digestão. Isso porque o corpo digere a proteína em partículas menores, os aminoácidos, e o cozimento atua num processo chamado desnaturação proteica, que já começa a quebrar essas cadeias de proteína antes da ingestão, para ficar mais fácil depois — diz Priscilla.

OUTRAS NOTÍCIAS