Pop it: brinquedos pra aliviar o estresse são a nova febre entre crianças e adultos

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O ‘pop it’ faz parte de uma categoria chamada ‘fidget toy’, que significa brinquedo de inquietação, em tradução literal.

Isso porque o objeto, feito de silicone, reúne várias bolinhas que, ao serem apertadas, emitem um barulho similar ao que ouvimos quando estouramos um plástico bolha: “pop”. Uma versão também já pode ser encontrada como capinhas para celular.

À primeira vista há quem se recuse a acreditar que são brinquedos. Multicoloridos e com formas diferentes, os “pop-its” parecem pequenas forminhas de gelo com bolinhas feitas para nada menos que apertar. E apertar mais uma vez. E apertar de novo. “Mas qual a graça disso?” você pode se perguntar. Pois saiba que a nova febre entre os chamados fidget toys, ou “brinquedos para inquietação” – traduzido para o português – tem despertado interesse entre os brasileiros. E engana-se quem pensa que os maiores fãs dos brinquedinhos são as crianças.

Sabe a sensação de estourar plástico bolha? Pois essa é a ideia dos pop-its, que nada mais são do que brinquedos sensoriais cuja função principal é aliviar o stress por meio do toque e da compressão das bolinhas. Com a promessa de estimular o bem-estar, o brinquedo é feito de silicone e funciona como um “plástico bolha sem fim”, já que as bolinhas não estouram, mas afundam, bastando virar o brinquedo para estourar tudo de novo.

Considerados a nova versão dos spinners (disquinhos giratórios que viraram febre em 2017), os pop-its podem ser usados por todas as idades, prometendo ajudar na concentração, foco e relaxamento.

Spinners viraram febre em 2017. Foto: Pixabay/karelinlestrange 

Procura é grande no comércio

Na loja de brinquedos dos empresários Ana Maria Ottoni e Raphael Millarch, os pop-its já estão entre os mais vendidos. “A procura é realmente grande e não só para crianças e sim para adultos”, relata a empresária que, desde o primeiro anúncio do produto há três semanas, já vendeu mais de duzentas peças. “É um sucesso porque você olha pra ele não entende muito bem do que se trata. Quando você começa a manusear você percebe que ele é relaxante. Além de ajudar pessoas com déficit de atenção, dificuldade de concentração, idosos e até mesmo portadores de autismo”, afirma.

Ana explica que os brinquedos são importados da China, custam a partir de R$ 50 e apresentam inúmeras vantagens pelo fato de serem laváveis e terem diversos tamanhos. “Tem os bem pequenos, que cabem na palma das mãos das crianças, até a versão tabuleiro. Tem em forma de quadrados, hexágonos e até chaveirinhos”, afirma. Dado o sucesso das primeiras vendas, a empresária guarda grande expectativa para a semana das crianças e para as festas de fim de ano. “É uma excelente opção de presente justamente pelo fato de estimular a cognição, a coordenação motora e o aprendizado”, reforça.

Empresários Rafael e Ana Maria com os fidget toys. Foto: Gerson Klaina/Tribuna do Paraná

Passatempo antigo

Se hoje o que está em alta é o pop-it, outros fidget toys já fizeram tanto sucesso quanto. Alguns viraram clássicos, como os famosos cubo-mágicos da década de 80 e as massinhas de modelar que, com o tempo, ganharam novas versões como slime e areias modeláveis. Há quatro anos, o spinner virou sensação entre crianças e adolescentes assim como as bolinhas de espuma industrial “apertáveis”, tão comuns sobre as mesas dos escritórios mundo afora.

Na pandemia, os fidget toys voltaram aos holofotes, chegando a figurar entre os produtos mais procurados para compra no Google Trends, que indica as principais tendências de consumo. O boom aconteceu justamente como consequência do isolamento social e da busca por alternativas na hora de gastar energia e aliviar o stress.

Efeito “Fidget”

É aí que os adultos entram em cena. Segundo pesquisa da Universidade Federal do Rio Grande do Sul (UFRGS), no período de pandemia, 80% dos brasileiros alegaram sentirem-se mais ansiosos. Ao mesmo tempo, segundo a Organização Mundial da Saúde (OMS), 93% dos serviços de suporte a transtornos de ansiedade sofreram algum tipo de interrupção em todo o mundo devido às restrições do convívio social. Fatores que contribuíram, em muita, para a piora da saúde mental da população adulta.

Segundo a neurologista Adriana Moro, tais transtornos muitas vezes desencadeiam até mesmo sintomas físicos. “Insônia, cefaleia, enxaquecas, palpitação e suor frio são alguns dos sinais da crise de ansiedade. No período da pandemia a incidência desses casos aumentou expressivamente por conta do isolamento social”, explica.

De acordo com a especialista, a busca por maneiras de aliviar tais sintomas é importante para o controle do stress e, nessa hora, os fidget toys podem ser de grande ajuda. “A partir do momento no qual insere-se outra atividade que tira o foco do problema, a ansiedade encontra uma válvula de escape por meio da concentração em outra atividade manual. Assim, a angústia perde espaço, dando lugar à concentração e ao relaxamento”, avalia.

Dessa forma, conforme explica a neurologista, os fidget toys desempenham seu papel terapêutico. “O cubo magico, por exemplo, é bem interessante pois estimula o foco e a atenção, por meio do desafio, o que ajuda a desenvolver a cognição. No caso dos pop-its, o fato de serem coloridos e terem inúmeras bolinhas, pode ser de grande ajuda para crianças que têm dificuldade com a matemática, por exemplo”, recomenda.

Cubo-mágico foi sucesso na década de 80. Foto: Pixabay/Chris Wolf

Ainda segundo Adriana, os benefícios à coordenação motora estendem-se para os públicos de todas as idades. “É a chamada coordenação motora fina, que com o tempo vai se perdendo. Por isso é importante manter esse tipo de estímulo em todos os momentos da vida, como forma de manter esse mecanismo sempre funcional”, diz.

Para quem prefere relaxar à moda antiga, a neurologista recomenda outras atividades manuais, menos “hype”, mas tão eficazes quanto. “Toda a forma de trabalho manual pode desempenhar esse papel. Basta identificar aquela que mais se gosta. Artesanato, pintura em tela, pintura em papel, jardinagem: todos funcionam bem como estímulo para relaxar e aliviar o stress. O que vale é tirar o foco do problema”, finaliza.

Informações: Estadão

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