Pesquisadores brasileiros identificam bactérias que facilitam diagnóstico de câncer intestinal

g1-intestino-1700x1065

Pesquisadores brasileiros publicaram nesta segunda-feira (1º), na revista científica “Nature”, os resultados de um estudo que pode ajudar no diagnóstico precoce do câncer de intestino, o terceiro mais comum no mundo e no Brasil.

Em conjunto com especialistas da Universidade de Trento, na Itália, pesquisadores do hospital A.C Camargo e da Universidade de São Paulo (USP) conseguiram identificar um conjunto de bactérias que servem como “marcadores” em testes para o diagnóstico da doença.

No estudo, os pesquisadores analisaram o material genético em amostras extraídas das fezes de 969 pessoas com e sem câncer. Foram usadas amostras de populações da Alemanha, França, Itália, China, Japão, Canadá e Estados Unidos.

Eles descobriram 16 micro-organismos que só estão presentes na flora (também conhecida como microbiota) intestinal ou fecal do intestino de pessoas com câncer intestinal. A expectativa dos pesquisadores é que a capacidade de verificar com testes se esses micro-organismos estão no organismo dos pacientes ajude a identificar mais facilmente indivíduos com este tipo de câncer.

O biólogo Andrew Thomas, um dos participantes da pesquisa, explica que a descoberta pode ajudar o trabalho de oncologistas.

“Esse estudo mostra que a microbiota de fezes é um indicador forte para a presença do câncer colorretal, independentemente da população sendo estudada ou da dieta das pessoas. Com isso, poderemos empregar testes que utilizam a microbiota fecal em conjunto com o teste do sangue oculto (feito para verificar a presença de sangue nas fezes) para obter detecções mais sensíveis e específicas, inclusive nos estágios iniciais da doença”, diz Thomas.

Bactéria causadora ou associada?

Segundo os pesquisadores, no caso do câncer de intestino, não era claro qual o papel ou a relação que os micro-organismos da flora tinham com a doença, enquanto que já era conhecido que no câncer de estômago só pode ser causado por uma única espécie bacteriana, a H. pylori.

O biólogo explica que ainda não é possível afirmar, com base no estudo, que uma ou mais bactérias específicas causem o câncer intestinal. Entretanto, a pesquisa abre possibilidade para novos estudos que investiguem se algumas dietas podem estar associadas ao desenvolvimento da doença.

“Um dos achados do nosso estudo foi o aumento de uma enzima microbiana que degrada a colina em pacientes com câncer intestinal. A colina é um nutriente presente na dieta (em carne vermelha e ovos), que ao ser degradada libera acetaldeído, um composto altamente carcinogênico, e trimetil-amina (TMA), que já foi fortemente associado a doenças cardiovasculares como a aterosclerose”, explica.

Ainda segundo o biólogo, o alto consumo de carne vermelha já foi associado a um maior risco de câncer colorretal, e o estudo atual abre um caminho para que essa interligação entre dieta, microbiota e o câncer colorretal seja confirmada.

Base heterogênea

Segundo o estudo, a identificação destes micro-organismos com dados de diferentes regiões do mundo pode funcionar como uma base de dados heterogêneos e importante para o diagnóstico e tratamento dos pacientes com câncer.

Além disso, pacientes que sofrem com doença de Crohn e retocolite ulcerativa (graves inflamações intestinais crônicas) também se beneficiariam, já que ambas não têm cura, mas podem ser controladas a partir de um diagnóstico precoce.

OUTRAS NOTÍCIAS