Pandemia faz casais adiarem lua de mel e amplia prejuízo no setor de hotéis e agências de viagens

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A auxiliar administrativa Mariane Oliveira, 25 anos, e o contador Jackson Silva, 31 anos, se casariam no dia 10 de outubro deste ano, mas a pandemia de coronavírus alterou os planos do casal. Para proteger as pessoas que amam, tiveram que adiar a cerimônia religiosa para 13 de março de 2021. O mesmo ocorreu com a tão desejada lua de mel, que já estava toda paga.

“Passaremos a lua de mel em Fortaleza, mas devido ao adiamento, tivemos que mudar o hotel. Quanto às passagens, estamos aguardando a empresa aérea abrir para remarcação sem custos, pois a mesma só está remarcando sem custos voos até junho deste ano. Se as alterássemos hoje, teríamos que pagar R$ 420”, explicou Mariane.

Ela afirmou que não eles poderiam ficar no hotel escolhido inicialmente, pois não havia vaga para a nova data da lua de mel. Mesmo assim, a auxiliar administrativa não se chateou e conseguiu outra opção que agradou ainda mais.

“O Hotel Beira Mar tem o mesmo padrão do outro ou é até melhor. A única diferença é em relação ao bairro. O anterior era em Iracema e esse novo fica em Meireles, mas nada que seja ruim pra gente. Eu acho que acabou sendo ‘bom’ porque a suíte de lua de mel do novo hotel que escolhemos é muito melhor do que a do outro e ele fica bem em frente ao mar. Teremos um quarto com a varanda voltada para o mar e banheira de hidromassagem, entre outros atrativos”, comparou a noiva soteropolitana.

Com 12 anos de relacionamento, Mariane diz que ela e o noivo estão em paz mesmo com as mudanças, pois sempre foram um casal de muita fé. Os dois prepararam por três anos o casamento, mas acreditam que “tudo é com permissão de Deus. O tempo de Deus é sempre melhor do que o nosso”.

Agências de viagens

As agências de viagens da Bahia têm trabalhado principalmente com remarcações. Por causa da pandemia, a venda de pacotes está praticamente parada.

De acordo com a presidente da Associação Brasileira de Agências de Viagens (ABAV) da Bahia, Ângela Carvalho, não há faturamento desde março. As empresas estão fechadas, atendendo apenas home office, principalmente clientes que desejam cancelar, reembolso ou alterar as datas de viagens.

As agências não cobram taxa no pós-venda. No entanto, as companhias aéreas têm regras distintas e pode haver multa ou alguma cobrança em cancelamentos e remarcações.

“Temos 135 agências associadas, mas há em torno de 600 agências de viagem em todo o estado. Não temos um número de quantas já fecharam, mas muitas irão fechar nos próximos meses. Com a atual situação econômica, poucas conseguirão se manter no mercado. A tendência é que muitas virem home office. Já temos em torno de 50% de demissões nas agências. Os outros 40% estão com suspensão de contrato de trabalho e 10% apenas com redução de jornada e salário”, estimou a presidente da ABAV-BA.

Ela acredita que, ao final dos acordos feitos em razão da MP 936/2020, que instituiu o Programa Emergencial com o objetivo de preservar o emprego e a renda, provavelmente muitos outros funcionários de agências serão demitidos.

“A ABAV e outras entidades do turismo já estão pleiteando a extensão do prazo da MP 936 para evitar demissões nos próximos três meses. Já foram muitas demissões até agora, teve agência que precisou dispensar 100% de seus funcionários e só poderá readmiti-los quando o negócio voltar a se movimentar, sendo que não há uma previsão já que deve ser algo muito lento e gradual. São especialistas, consultores de viagens. Onde eles vão conseguir emprego nessa época? É muito doloroso ver isso!”, confessou Ângela.

Hotéis

Os hotéis fazem parte de outro segmento atingido em cheio pela pandemia. Segundo o presidente da Federação Baiana de Hospedagem e Alimentação (Febha), Silvio Pessoa, 95% dos grandes hotéis fecharam no estado desde o dia 1º de abril por falta de hóspedes. A previsão inicial de retorno é em julho, mas isso ainda dependerá muito das empresas aéreas, de como voltarão a operar.

Pessoa contabiliza 400 hotéis em Salvador e 4.170 na Bahia. “A princípio, estamos focando no turismo doméstico estadual e de vizinhos, a exemplo de Sergipe. Quando voltarmos, acreditamos que a nossa capacidade será entre 20% e 30% de ocupação. Esperamos atingir o patamar de 50% a partir de janeiro de 2021 em Salvador, isso porque a cidade está arrumada, temos centro de convenções, aeroporto novo e uma estrutura qualificada em diversos sentidos”, apontou o presidente da Febha.

Ele conta que os funcionários dos hotéis foram colocados de férias e houve suspensão dos contratos de trabalho provisório. A categoria também está pedindo a prorrogação da MP 936, pois não haverá turistas na Bahia a curto prazo.

“Houve muitas demissões, pelo menos 30% da mão de obra efetiva foi desligada em função da crise econômica causada pela pandemia. Todos os eventos foram cancelados em função do decreto estadual proibindo aglomeração. Estima-se que de 5% a 10% dos hotéis fecharão as portas em definitivo. Todos estão sem faturamento, apenas com custos fixos, pois não há turismo nesse momento. Não adianta abrir a porta se não tiver consumidores, turistas, hóspedes. É uma triste realidade”, opinou Pessoa.

Ele destaca que eram 200 mil empregos diretos e 750 mil indiretos no turismo baiano, que é o maior empregador do estado após o agronegócio. No entanto, após a pandemia, as empresas do setor precisarão se readequar e se reinventar. Adotar tarifas baixas mesmo com altos custos deve ser uma das medidas que serão adotadas pelo segmento. Além disso, nem todos os serviços serão reabertos de imediato para se adequar às exigências sanitárias.

O empresário Glicério Lemos, membro da Associação Brasileira da Indústria de Hotéis do Estado da Bahia (ABIH-BA), calcula que a malha aérea nacional só deva começar a “embalar” em dezembro e a da Europa em outubro. Então, só haveria uma melhor segurança para os hotéis reabrirem a partir de dezembro.

“A malha aérea é que dá apoio ao turismo. Precisamos de um numero suficiente de turistas para a reabertura dos hotéis. Não há equilíbrio financeiro para retornarmos agora em julho, já que não teremos ocupação. Acredito que ninguém vai querer abrir hotel com o risco de ter ainda mais prejuízo. Com baixa ocupação, por exemplo de 10% a 15%, é melhor não abrir”, cravou Lemos.

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