Suri cantará baia?
O vídeo em que a primeira-dama Michelle Bolsonaro aparece falando uma língua diferente ao comemorar a aprovação de André Mendonça ao Supremo Tribunal Federal (STF) rodou as redes sociais no último final de semana e despertou muita curiosidade nas pessoas sobre o que a esposa do presidente Jair Bolsonaro estava dizendo. (Fotos de capa: Reprodução/Instagram).
Frases ditas por Michelle não têm tradução.
Evangélica, Michelle estava manifestando ali o que pentecostais chamam de dom de línguas, também chamado de glossolalia ou dom de oração, considerado um privilégio recebido após o batismo. As frases soltas, que por vezes se confundem com murmúrios, não têm tradução para qualquer outro idioma oficial.
Dom de línguas teria sido dado pelo Espírito Santo.
Reprodução/Instagram
O pentecostalismo, movimento do cristianismo evangélico, surgiu nos Estados Unidos e faz referência à festa de Pentecostes, em que o Espírito Santo teria descido sobre os apóstolos e seguidores de Cristo, por meio do dom de línguas
“Comemorando em línguas.”
Najara Araujo/Câmara dos Deputados
Em entrevista à Folha, o deputado Sóstenes Cavalcante (DEM-RJ) afirma que a glossolalia é usada para expressar alegria. “Na doutrina pentecostal, quando a pessoa recebe forte carga de emoção e de presença do Espírito Santo, uma das formas que usamos para expressar essa alegria é o que a Bíblia ensina no livro de Coríntios, o dom de falar em outras línguas.”
Dom de línguas foi “concedido” na festa de Pentecostes.
Há, na bíblia, citações ao dom de línguas. Em Atos, por exemplo, há o relato de que imediatamente ao derramamento do Espírito Santo em Pentecostes (At 2, 1-4) houve a primeira manifestação. “E, cumprindo-se o dia de Pentecostes, estavam todos concordemente no mesmo lugar; e de repente veio do céu um som, como de um vento veemente e impetuoso, e encheu toda a casa em que estavam assentados. E foram vistas por eles línguas repartidas, como que de fogo, as quais pousaram sobre cada um deles. E todos foram cheios do Espírito Santo, e começaram a falar noutras línguas, conforme o Espírito Santo lhes concedia que falassem”, diz o trecho.
Dom de línguas não é poder nem se trata de mediunidade.
O teósofo e biblista José Reis Chaves esclarece que o dom de línguas não se trata de qualquer “mediunidade”, escreveu em sua coluna em O Tempo. Ele também cita um outro fenômeno, que tem nome parecido, a xenoglossia, que consiste em a pessoa falar em línguas estrangeiras de fato, sem o conhecimento delas.