Novo ministro da Justiça tenta evitar rompimento de Bolsonaro com bancada da bala

Brazilian President Jair Bolsonaro (C) is pictured surrounded by parliamentarians during the signing ceremony of the decree that facilitates to own, carry and import weapons, at the Planalto Palace in Brasilia, on May 7, 2019. (Photo by EVARISTO SA / AFP)
Brazilian President Jair Bolsonaro (C) is pictured surrounded by parliamentarians during the signing ceremony of the decree that facilitates to own, carry and import weapons, at the Planalto Palace in Brasilia, on May 7, 2019. (Photo by EVARISTO SA / AFP)

Acuado por críticas dentro de sua própria base aliada no Congresso, o presidente Jair Bolsonaro (sem partido) decidiu reagir para evitar a perda de apoios um ano antes de tentar se reeleger ao cargo.

Nos úlltimos dias, além de ter reformulado a articulação política do governo, hoje comandada por nomes de partidos do chamado centrão, o presidente nomeou o novo ministro da Justiça, Anderson Torres, para reconstruir pontes no Poder Legislativo.

Com relação estreita com a chamada bancada da bala, o delegado federal tem como desafio buscar reaproximar a frente parlamentar do Palácio do Planalto.

Bolsonaro foi eleito em 2018 com o discurso da segurança pública e com o apoio de integrantes dessa bancada federal, mas decisões do governo o distanciaram do bloco político.

Torres usou sua cerimônia de posse, nesta terça-feira (6), para demonstrar alinhamento a Bolsonaro.

“A segurança pública foi uma das principais bandeiras da sua eleição e ela voltará a tremular alta e imponente. Isso eu posso garantir a vossa excelência, estejam certos disso”, afirmou.

Mais tarde, anunciou como novo diretor-geral da Polícia Federal o delegado Paulo Maiurino, considerado um dos quadros da corporação mais próximos da política.

Antes mesmo de tomar posse oficialmente, o novo ministro já havia entrado em contato com parlamentares que atuam na área da segurança pública.

Na semana passada, ele fez uma visita aos presidentes do Senado, Rodrigo Pacheco (DEM-MG), e da Câmara, Arthur Lira (PP-AL), ao lado da nova ministra da Secretaria de Governo, Flávia Arruda (PL-DF), que terá o papel de encabeçar a articulação política do governo.

“O ministro está organizando uma agenda para que possamos alinhar as ações da comissão com o interesse nacional, respeitando a independência dos Poderes”, disse à Folha o presidente da Comissão de Segurança Pública da Câmara, Emanuel Pinheiro Neto (PTB-MT).

A nomeação de Anderson Torres, que era secretário da Segurança Pública do Distrito Federal, teve como objetivos tanto dar mais visibilidade à bandeira eleitoral do combate à violência quanto retomar a interlocução do governo federal com as forças policiais.

A ausência de interlocução do Planalto com agentes de segurança tem sido motivo de queixas desde o ano passado.

Para integrantes da bancada da bala, que muitas atuam como espécie de porta-vozes das demandas das polícias Civil e Militar no Congresso, o presidente privilegiou uma relação com as bancadas evangélica e ruralista e acreditou que o apoio do grupo seria incondicional.

“Falta diálogo do presidente com a nossa bancada. Em dois anos, não entendo por que Bolsonaro não se reuniu conosco”, reclamou o líder da grupo parlamentar conhecido como bancada da bala, Capitão Augusto (PL-SP).

Além disso, posturas recentes desagradaram integrantes da frente da segurança, como o fato de o Ministério da Saúde não ter adiantado o cronograma de vacinação a todos os agentes policiais e o impedimento de reajuste salarial para a categoria no âmbito da PEC Emergencial, proposta do Ministério da Economia aprovada em março.

A bancada da bala também se mostrou incomodada ao não ter sido consultada sobre a escolha de Anderson Torres para a Justiça e, na eleição à sucessão da Câmara, chegou a lançar candidato próprio contra Lira, nome apoiado por Bolsonaro. Na última hora, no entanto, acabou desistindo.

Em conversa recente, relatada à Folha, Bolsonaro se irritou com críticas públicas feitas por integrantes da frente da segurança e manifestou preocupação com um movimento de afastamento de deputados e senadores que antes eram alinhados ao governo.

O que mais causou incômodo a Bolsonaro foi o fato de congressistas da bancada terem elogiado o governador de São Paulo, João Doria (PSDB), por ele ter anunciado antes do presidente uma previsão para o início da vacinação contra a Covid-19 de agentes de segurança.

Na avaliação de assessores palacianos, o tucano, que é pré-candidato a presidente em 2022, iniciou ofensiva para ganhar apoio dentro da bancada da bala diante da insatisfação de deputados e senadores com Bolsonaro.

Como uma espécie de reação, a ideia é de que Anderson, que já foi chefe de gabinete do ex-deputado federal Fernando Franschini (PSL-PR) e diretor de assuntos parlamentares da ANDPF (Associação Nacional dos Delegados de Polícia Federal), tenha uma atuação mais incisiva no Congresso, ajudando a articular apoios e pautas de interesse do governo.

Para ter êxito, no entanto, o novo ministro enfrentará desafios. Segundo o líder da bancada da bala, a gestão de Anderson à frente da Segurança Pública do DF “deixou rusgas com a Polícia Militar”.

“Este Ministério da Justiça e da Segurança Pública é 99% Justiça e 1% Segurança Pública. Vamos ver se ele dá um equilíbrio e começa a dar uma atenção maior à segurança e se vai estabelecer este diálogo, que nunca teve”, afirmou Capitão Augusto, que disse não ter sido convidado para a posse de Anderson.

A mudança na articulação política ocorre no momento em que o presidente voltou a ser pressionado pela abertura de um processo de impeachment e pela queda dos seus índices de popularidade, ameaçando a sua reeleição ao cargo.

Na tentativa de reconstruir pontes, Bolsonaro retirou a articulação política do general da reserva Luiz Eduardo Ramos, que passou para a Casa Civil, e escalou três ministros políticos para atuarem na linha de frente.

Além de Anderson, têm dialogado com congressistas os ministros Flávia Arruda (Secretaria de Governo) e Fábio Faria (Comunicações).

Os dois últimos, que têm mandatos de deputados federais, atuam para tentar melhorar a relação do presidente com o centrão, sobretudo diante da ofensiva eleitoral do ex-presidente Lula (PT) sobre o bloco partidário.​

A ministra, nomeada por sua proximidade com Lira, trabalhou durante o feriado de Páscoa para evitar uma crise política entre o Ministério da Economia e o Congresso por causa da sanção do Orçamento. Na semana passada, ela se reuniu tanto com o ministro Paulo Guedes como com Lira.

Para a Secretaria de Governo, Bolsonaro chegou a cogitar o nome do senador Eduardo Gomes (MDB-SE)​, líder do governo no Congresso, em um aceno ao Senado, que ainda não foi contemplado no primeiro escalão.

O presidente, no entanto, foi convencido de que, neste momento, seria melhor ter no Planalto um aliado de Lira, uma vez que cabe ao presidente da Câmara iniciar um processo de impeachment. “O governo federal tem trabalhado em muita sintonia com o Congresso, o que tem sido muito bom para o país”, disse Faria.

Informações: Folhapress

OUTRAS NOTÍCIAS