“Fora do padrão não sou eu. São eles.” Foi essa a resposta que o modelo de 36 anos Akin Cavalcante deu a um recrutador que perguntou por que deveria contratar o único modelo portador de vitiligo, negro e com 1,80 m de altura entre uma seleção de jovens de feições europeias e mais de 1,90 m. “Se você sair daqui e der uma volta pela avenida Paulista, sabe quantas pessoas negras, de barba e da minha altura vai encontrar? Sou a representação genuína do brasileiro. Minha única particularidade é o vitiligo”. Foi assim que o modelo levou o trabalho.
O vitiligo é uma doença transformadora. Você tem de lidar com a aceitação de uma nova imagem. Aos 18 anos, quando a primeira manchinha apareceu, pensava que perderia oportunidades, mas nada disso aconteceu.
Embora seu tipo físico seja correspondente a mais da metade dos brasileiros, é o vitiligo, condição de pele que atinge cerca de 2% da população mundial, que faz com que Akin tenha uma imagem tão marcante. O modelo da Rock MGT já foi o rosto de comerciais de cerveja premiados, beijou a cantora Anitta no clipe Não Perco o Meu Tempo e foi o segundo modelo com vitiligo a desfilar pelas passarelas da São Paulo Fashion Week. Sobre a maior semana de moda da América Latina, teceu críticas aos fotógrafos sem receios. “Passei por um processo forte de invisibilidade. Só perceberam que eu era modelo quando entrei na fila para desfilar. Só a partir daí começaram a tirar fotos e surgiram os convites para ensaios colaborativos.”
Diversidade: muito além do ‘close’
Segundo o modelo, os convites para trabalhos não remunerados não são poucos. Radicalmente contra trabalhar de graça ‘pela divulgação’, o modelo aponta falhas em como a indústria da moda e da publicidade tem tratado o conceito de diversidade. “Esse discurso é falso e frágil. Muitas vezes justificam que estão de dando oportunidade, mas querem te pagar menos ou não pagar. Também não preparam a equipe para lidar com as diferenças. Não adianta, por exemplo, contratar um modelo cadeirante para uma campanha se você não proporciona os meios necessários para a pessoa chegar lá e fotografar”.
Foto: Hudson Rennan
“A gente usa muito a palavra padrão, mas o padrão no Brasil nunca foi branco, mas querer ser branco europeu. Pessoas tingindo os cabelos de loiro, fazendo plástica para afinar o nariz, camisetas com frases em inglês e em francês. Nós – pessoas ditas ‘fora do padrão – não estamos em destaque agora porque a moda gosta de nós, mas porque o velho padrão não se sustenta mais. A imagem deles não vende mais”.
‘Não tenho duas cores’
Como referência na conscientização sobre o vitiligo, Akin faz questão de deixar claro que a condição de pele não interfere em sua identidade racial. “Posso ser despigmentado, mas não tenho duas cores. Continuo sendo negro, mas no Brasil a questão racial está mais atrelada à cor do que origem. O vitiligo não altera minha condição racial. ”
Embora fale abertamente sobre a condição de pele que o acometeu aos 18 anos, o modelo ressalta que foi um longo caminho até chegar à aceitação. “Foram anos de depressão. O início foi traumático e desesperador, tentava esconder de todos os jeitos com maquiagem, até que chegou o momento em que não conseguia mais. Se eu não tenho mais como esconder minha doença para o mundo, quem quiser gostar de mim, que goste desse jeito.
Modelo desfilou para a Handred, na São Paulo Fashion Week 2011
Fonte: R7