Funcionária pública inicia terapia na pandemia e se descobre como mulher trans: ‘Me libertei’

adriana-beatriz-batista

Com muito tempo sozinha para pensar durante a pandemia da Covid-19, a funcionária pública Adriana Beatriz Batista, de 44 anos, iniciou uma terapia e descobriu que seus problemas não estavam ligados ao isolamento social proposto pela epidemia da doença, mas sim ao fato de reprimir quem ela realmente é, uma mulher trans. As informações são do G1.

Segundo Adriana, ela era reconhecida pelos amigos, familiares e colegas de trabalho como um homem homossexual. No entanto, ela nunca se identificou com coisas masculinas. “Sempre me vi e me percebi como mulher, mas são coisas que a gente vai reprimindo, por conta da sociedade. Mas, veio a pandemia, e tive muito tempo para pensar sobre a vida”, disse.

Com as restrições adotadas pela pandemia do coronavírus, Beatriz começou a se sentir mal e iniciou uma terapia. Durante as sessões, com o apoio psicológico, Batista se identificou como uma mulher trans. “Acho que chegou a minha hora de viver. Ser trans é assumir sua própria identidade”, afirmou.

Preconceito

De acordo com Adriana, ela sofreu muito preconceito por parte de colegas de trabalho, que não aceitaram a transição, e disse que só não foi demitida por ser funcionária pública. No âmbito familiar, Beatriz alegou que a mãe teve dificuldades para aceitar a filha no começo, mas agora todos os familiares a tratam bem.

“Acho que o meu diferencial, meu privilégio, foi transicionar mais tarde, e já ter um emprego, uma certa estabilidade. A maioria das pessoas trans transiciona aos 13 anos, é a média. E muitas são expulsas, não são aceitas pela família, não conseguem emprego. A maioria morre, na média, aos 35 anos, então, sinto que tenho uma vida de privilégios”, declarou.

“Foi um processo extremamente doloroso, que talvez nunca conseguisse se não fosse a pandemia, se não tivesse parado para refletir sobre isso. Eu mesma precisei desconstruir meus preconceitos, porque cresci em uma época onde ser trans era uma doença. Ouvi diversos comentários de ‘amigos’ e conhecidos. São discursos de ódio, que você tem que acabar lidando. Mas, eles têm que cuidar do corpo deles, e eu, do meu”, relatou.

Felicidade

Para Beatriz, a transição foi um renascimento e ela se sente feliz com quem é. “É como se eu tivesse nascido de novo, começado a viver agora. A grande dificuldade para a pessoa trans é se olhar no espelho, porque a gente percebe que nosso corpo não reflete como a gente se vê. Eu preciso aceitar que nunca vou ser uma mulher cis, mas tenho a minha beleza”, explicou.

“Era como se eu tivesse monstros dentro de um quarto, e estivesse segurando a porta para eles não saírem. Gastava muita energia nisso. Acho que, se não me assumisse, minha tendência era o suicídio, mas hoje, estou feliz”, acrescentou.

“Na verdade, descobri o que sempre fui. Me libertei, porque me sentia aprisionada. As pessoas falam sobre eu militar, mas é claro que milito. Sou uma mulher trans, então, a minha existência é uma militância”, concluiu.

OUTRAS NOTÍCIAS