Documentário dá voz a repórter que viu seu bebê ser torturado na ditadura

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O documentário traça um perfil do jornalista Dermi Azevedo, que foi torturado por militares durante a Ditadura no Brasil, em 1974. Seu filho de 1 ano e 8 meses também foi vítima de tortura na época.

O documentário ‘Atordoado, Permaneço Atento’, dirigido por Lucas H. Rossi dos Santos e Henrique Amud, dá voz ao jornalista e cientista político Dermi Azevedo.

Em 1974, ele foi preso com a mulher e o filho de 1 ano e 8 meses no Departamento de Ordem Política e Social (DEOPS), após agentes revistarem sua casa no Campo Belo, bairro da capital paulista.

Na casa encontraram o livro ‘Educação Moral e Cívica e Escalada Fascista no Brasil’, da educadora Maria Nilde Mascellani.

A obra apresentava uma análise da educação Moral e Cívica (EMC), disciplina imposta pelo regime militar em todos os currículos escolares do Brasil.

A invasão da residência do casal teria sido motivada pela informação de que o livro havia sido enviado ao Conselho Mundial de Igrejas, para ser divulgado internacionalmente.

No DEOPS, Dermi sofreu com as agressões físicas praticadas pelos militares, mas o tratamento dado ao seu primogênito, Carlos Alexandre Azevedo, o Cacá, causou ainda mais sofrimento no jornalista.

A mãe de Cacá, a pedagoga Darcy Andozia, também foi presa, e pouco depois o bebê também foi parar no DEOPS. Lá, ele teria levado choques elétricos, segundo relatos de outros presos.

Na ocasião em que os militares entregaram a criança aos avós maternos, em São Bernardo do Campo, no ABC Paulista, Cacá foi jogado no chão pelos militares. O menino cresceu, mas desenvolveu fobia social. Em 2013, aos 40 anos, suicidou-se com uma overdose de medicamentos.

O documentário

O filme, elaborado numa linguagem metafórica, não entra nesses detalhes e traz uma ou outra foto de família.

Entre as imagens apresentadas está uma de Cacá aos 5 anos de idade, com os pés mergulhados num açude em Currais Novos, no sertão do Rio Grande do Norte, onde Dermi cresceu e levou a família após deixarem a prisão. Só voltaria para São Paulo em 1984.

Dermi e Darcy ainda tiveram outros três filhos, mas acabaram se separando. De acordo com um dos diretores do documentário, a separação teria ocorrido por desavenças em relação ao ocorrido com Cacá.

Enquanto Darcy queria preservar Cacá ao máximo, Dermi entendia que era necessário denunciar a crueldade do acontecimento.

Objetivo da obra

O documentário pretende atuar para alertar sobre a normalização da tortura e para o clima de ódio que paira na atmosfera brasileira.

A obra concorre a melhor curta-metragem no 48º Festival de Cinema de Gramado, além de já ter ganhado outras premiações em 2019.

A entrevista com Dermi para o filme foi realizada em 2018, quando ele estava com 69 anos e debilitado por causa do Parkinson, diagnosticado em 2007.

O plano de fundo da obra se baseia no material compilado no livro ‘Infância Roubada’, compilado quatro anos antes pela Assembleia Legislativa do Estado de São Paulo (Alesp) e pela Comissão da Verdade do Estado de São Paulo – Rubens Paiva.

A obra tem mais de 300 páginas, com testemunhos de 40 crianças que foram atingidas pela ditadura. São filhos de presos políticos, perseguidos ou nunca encontrados, e que nunca tiveram suas histórias contadas até aquele momento.

Darcy foi a responsável por detalhar as dores de Cacá. O filho morou com ela até o fim da vida. Cacá sofria na escola, sendo chamado de terrorista, além de apanhar dos colegas. Por sentir vergonha da situação, foi se fechando aos poucos.

Em 2011, Cacá recebeu uma indenização do Estado por ter sido vítima do regime militar.

Para assistir ao trailer, clique aqui. Por enquanto, o filme completo está no circuito de mostras e festivais.

Informações: TAB UOL

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