Derivado da maconha pode ser útil para tratamento contra Covid longa

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Pesquisadores brasileiros realizaram um estudo para testar se o canabidiol (CBD), componente sem efeito psicoativo da maconha, pode ser utilizado no tratamento dos efeitos de longo prazo da Covid-19 —a chamada Covid longa.

A hipótese é que a substância possa ser útil porque ela já tem eficácia comprovada contra outros casos inflamatórios semelhantes ao provocado pela doença.

Coordenador da pesquisa, o cardiologista Edimar Bocchi explica que a Covid causa a inflamação de vários órgãos do corpo humano, com sintomas muito diversos.

Segundo ele, que também trabalha no Incor (Instituto do Coração da Faculdade de Medicina da USP, estudos apontam que entre 10% e 20% de quem foi infectado pelo Sars-CoV-2 deve apresentar a Covid longa.

O cardiologista explica que existem três motivos para esses efeitos prolongados acontecerem. No primeiro, o paciente, depois de se curar da infecção viral, fica com um distúrbio imunológico que causa o problema. No segundo, é a própria infecção viral inicial que segue no corpo, atingindo diversos sistemas e órgãos. Já no último, a Covid acaba desencadeando uma inflamação crônica pré-existente.

Mas independente do motivo, a grande questão que intriga os médicos é como exatamente combater esses efeitos prolongados.

É aí que entra o CBD, já que há uma série de evidências que mostram sua utilidade no tratamento de sintomas semelhantes aos vistos na Covid longa, como contra inflamações, dores e ansiedade.

Exatamente por causa desses estudos anteriores com a substância, o Incor vai poder começar a nova pesquisa já na fase 3, realizada diretamente com humanos.

O estudo deve durar inicialmente por três meses e será composto por 300 pacientes diagnosticados com Covid longa que tiveram um comprometimento importante na qualidade de vida ou uma diminuição na capacidade de realizar exercícios físicos. Ao final, o objetivo dos cientistas é exatamente conseguir saber se o CBD traz alguma melhoria nesses dois aspectos.

Além disso, os principais sintomas de cada um dos pacientes serão catalogados. Na sequência, os voluntários vão ser divididos em dois grupos de maneira aleatória, com um recebendo placebo, e o outro, CBD de maneira gradual —os médicos querem monitorar os efeitos do corpo a cada dose da substância.

“Pelos efeitos descritos com o CBD, eu acredito que esses pacientes têm muita chance de ter benefícios com essa medicação e a hipótese do estudo é que o canabidiol é superior ao tratamento usual para esse tipo de paciente”, afirma Bocchi.

Em 2019, a Anvisa regulamentou o uso de medicamentos derivados da maconha e permitiu sua venda em farmácias —essa autorização permite o cultivo legal da cânabis no país.

Uma comissão especial da Câmara dos Deputados já aprovou um projeto de lei que autoriza que empresas façam o cultivo da planta com fins científicos ou medicinais. A regra, porém, ainda precisa ser votada no Senado e, se for aprovada, ser sancionada pelo presidente Jair Bolsonaro (sem partido) —um crítico ferrenho desse tipo de medida. .

Bocchi afirma que a cânabis tem mais de 400 componentes e nem todos eles causam efeitos recreativos —o CBD é um deles.

“O que está claro atualmente é que a utilização de derivados [da cânabis] que tenham efeito farmacológico e que não colocam em risco o indivíduo é útil para o tratamento de algumas doenças, como convulsão. Nesse casos, acho que é importante ter a liberação”, diz o cardiologista.

Informações; Folhapress

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