Ao fazer um alerta em abril, durante um seminário para uma Universidade de Berlim, de que as Forças Armadas estavam sendo orientadas a desacreditar o sistema eleitoral, o ministro Luís Roberto Barroso já sabia das investidas em preparação dentro do Ministério da Defesa para acuar e pressionar a Justiça Eleitoral, tal como aconteceu em maio.
O ministro foi criticado pela fala, sob o argumento de que acabou aumentando a temperatura da crise entre governo e Judiciário. Tanto que o ministro da Defesa, Paulo Sérgio Nogueira, divulgou naquele momento nota dura classificando de irresponsáveis as frases de Barroso.
Só que o ministro do Supremo Tribunal Federal (STF) alertava exatamente para o que estava sendo preparado dentro do governo: os novos ataques do presidente Jair Bolsonaro e as pressões do Ministério da Defesa neste início de maio contra a Justiça Eleitoral. Em conversa com interlocutores, Barroso tem dito que seu alerta mostrou que estava correto.
O ministro, que presidiu o Tribunal Superior Eleitoral (TSE) até o início deste ano, tem rebatido as críticas de que teria cometido um erro ao chamar as Forças Armadas para integrarem a Comissão de Transparência Eleitoral.
Em conversa com interlocutores, ele lembra que as Forças Armadas, a partir de uma resolução do TSE, já participam do processo eleitoral como um órgão que atua na fiscalização das eleições, ao lado da Polícia Federal, partidos políticos e Procuradoria Geral da República.
Segundo ele, não fazia sentido chamar os outros órgãos para a CTE e não as Forças Armadas. Além disso, a pressão que elas estão fazendo agora, como integrantes da comissão, poderiam fazer o mesmo como integrantes do grupo de fiscalização das eleições. Ou seja, a disposição do Ministério da Defesa de atuar politicamente, alinhadas ao pensamento de Bolsonaro, já estava definida nos bastidores do Palácio do Planalto.
No ano passado, quando o ministro Barroso decidiu criar a comissão e fazer uma campanha em defesa do processo eleitoral brasileiro, a avaliação dentro do TSE é que os ataques do presidente Bolsonaro estavam surtindo efeito. Pesquisa Datafolha feita no ano passado mostrava um crescimento da desconfiança da população nas urnas eletrônicas, atingindo 30%. Depois, após a criação da comissão e da campanha, o quadro se reverteu, com 80% da população considerado o nosso sistema eleitoral seguro e confiável.
Fonte: g1.globo.com