Marina Silva deve atrair voto útil de evangélicos

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A entrada da ex-senadora Marina Silva na corrida presidencial tende a ter efeitos no mundo evangélico. Marina, que é ligada à Assembleia de Deus, deve abocanhar boa parte dos votos desse segmento e, na opinião de líderes evangélicos, colocar em risco as metas planejadas por aliados do Pastor Everaldo. O candidato do PSC, o único até aqui declaradamente evangélico, é ligado à Igreja Assembleia de Deus, e tinha planos de atingir cerca de 10% dos votos no primeiro turno baseado na força desse eleitorado. Há quem aposte também em prejuízos para Dilma Rousseff (PT) e Aécio Neves (PSDB).

“O que acontece com o voto evangélico é que ele virou o voto útil. Vejo tudo quanto é comentário, blogs, sites, redes sociais que os evangélicos usam. As pessoas dizem: ‘Temos de ajudá-la a ir para o segundo turno.’ Ela vai pegar o voto útil dos evangélicos. E isso tira voto do Everaldo e, na minha visão, (afasta) a possibilidade de ele crescer”, diz o pastor Silas Malafaia. “Se a Marina não estivesse no páreo, acredito que o Everaldo poderia fazer entre 8% e 10%, com toda a honestidade. Com a Marina no páreo, acho que o Everaldo pode fazer de 5% a 6%. Vai migrar voto para ela, não adianta”, acrescenta.

Apesar de reconhecer o potencial estrago que Marina pode fazer na candidatura de Everaldo, Malafaia, que já apareceu na propaganda eleitoral do candidato do PSC, garantiu que não mudará de lado no primeiro turno. “No primeiro turno, até por uma questão ética, moral, de ter dado a minha palavra – e sou amigo dele [Everaldo] há mais de 30 anos -, vou apoiar o Everaldo no primeiro turno. E se ela [Marina] for no segundo turno, não só ela, qualquer um contra o PT, conta comigo. Ou ela ou Aécio. Contra o PT, sou o primeiro da fila”, declara Malafaia.

Correligionário de Everaldo, o deputado e pastor Marco Feliciano (PSC-SP) também enxerga a tendência de migração de parte dos votos do candidato do PSC. “Minha vontade é que não houvesse, mas com certeza vai acontecer. A grande massa evangélica tem pouca informação política sobre a Marina. A imagem que têm de Marina é a de 2010. A irmã Marina, a moça que se veste como evangélica, tem o coquezinho evangélico. Poucos sabem, por exemplo, do posicionamento dela acerca de assuntos polêmicos. Então automaticamente alguns votos vão migrar para ela”, afirma Feliciano.

Tempo ao tempo

Feliciano afirmou que o PSC aguardará mais alguns dias para ter a exata dimensão que Marina provocará na candidatura de Everaldo. Ele disse que é difícil dizer se o plano de chegar a 10% dos votos no primeiro turno está irremediavelmente destruído. “Não sei dizer. Estamos trabalhando para que isso não aconteça. Até porque o Pastor Everaldo está com o apoio dos principais líderes evangélicos do País. A grande maioria evangélica pentecostal, que era o voto de Marina, apoia agora o Pastor Everaldo. Estamos apostando que, dentro de 15 ou 20 dias, essa comoção que está em torno da Marina por causa, infelizmente, da morte do Eduardo Campos vai esfriar e aí vamos ver como vai ficar. Mexeu com tudo”, declara.

Membro da bancada evangélica, o deputado Marcos Rogério (PDT-RO) também engrossa o coro dos que acreditam que a candidata do PSB fará estragos nos índices até aqui registrados por Everaldo nas pesquisas de intenção de voto (ele tem 3%, segundo o mais recente levantamento realizado pelo Datafolha). “Pense o seguinte: quem conhecia o Pastor Everaldo antes dessas eleições fora da igreja dele? Poucas pessoas. Esse é um trabalho que ele terá de fazer agora. Marina já fez isso na eleição passada, já é conhecida”, afirma. “O eleitor a vê com possibilidade de ir ao segundo turno, e isso tem um peso na escolha”, admite. “Acho que o Everaldo não perde, mas deixa de ganhar os votos que ganharia a partir da chegada da Marina. Acho que isso é natural.”

Marina já recebeu apoio do pastor Renê Terra Nova, líder da Igreja Ministério Internacional da Restauração (conhecida pela sigla M12), que surgiu a partir de um desmembramento da Igreja Batista. Terra Nova é apontado como responsável por um trabalho importante de capilarização do nome de Marina nos meios evangélicos em 2010. Ele mais uma vez colocará sua rede a serviço de Marina. O deputado Lincoln Portela (PR-MG), outro membro da bancada evangélica, destaca os esforços da comunidade evangélica por Marina no passado e faz um prognóstico para o quadro atual.

“Na campanha passada, houve um trabalho maciço dos evangélicos para a Marina. Ela não tinha o conhecimento e a credibilidade evangélica que tem hoje. E a musculatura política que tem hoje. A tendência do voto evangélico é migrar de uma forma incisiva para a Marina”, diz ele, que é ligado à Igreja Batista. “Não só o voto evangélico, mas os votos das famílias. Você percebe que a Marina não tomou voto do Aécio nem da Dilma. Ela tomou voto dos indecisos. Grande parte do evangélicos indecisos”, avalia, referindo-se à última pesquisa do Datafolha. “Se o eleitorado do Pastor Everaldo perceber que o crescimento da Marina não é apenas uma questão de comoção nacional, mas que ela traz estabilidade, a tendência é claro é que o eleitorado dele diminua.”

Dilma e Aécio

Além do estrago que pode causar na candidatura de Everaldo, Marina poderá promover uma sangria nos índices alcançados até aqui por Dilma e Aécio. A opinião é de Malafaia. “Negar o fato é ignorância. A gente pode até não gostar de A e de B, mas negar fato, não. Com quase certeza absoluta Marina vai pegar muita gente evangélica que ia votar em Aécio e em Dilma, não tenho nenhuma dúvida quanto a isso”, diz. “Ela toma alguma coisa (do Everaldo) também, mas vai tomar muito mais dessa turma (Aécio e Dilma)”, acrescenta.

Portela concorda que petistas e tucanos também sofreram os efeitos de migração do eleitorado evangélico. “Os evangélicos têm muita dificuldade hoje com Dilma. Uma dificuldade menor com Aécio. Ele transita melhor com os evangélicos, mas Dilma não tem mais um trânsito bom com os evangélicos”, pondera. “Se a candidatura de Marina mostrar que não é apenas fruto de uma comoção nacional, ela vai tirar votos não só de Aécio, como também de Dilma”, finaliza o deputado.

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