Com proximidade da prova do Enem, estudos não diminuem e chegam até 14 horas por dia

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Uma das provas mais importantes do esporte, a maratona surgiu na Grécia Antiga. Reza a lenda que o soldado Feidípedes percorreu a longa distância entre o campo de batalha de Maratona até Atenas para levar a notícia da vitória sobre os persas. Verdadeira ou não, a história do soldado que correu para cumprir sua missão inspirou a criação da prova e virou sinônimo de desafios difíceis de serem superados.

 A estudante Ulli Uldiery, 20, não pratica exercícios físicos desde o começo do ano, mas ainda assim percorre diariamente a sua maratona particular em busca de um objetivo: passar no vestibular para Medicina. Durante 13 horas por dia, ela corre atrás do sonho de fazer um bom Exame Nacional do Ensino Médio (Enem), e alcançar a linha de chegada, de preferência em primeiro lugar.

 O percurso, que termina daqui a dez dias,  passa por dezenas de livros e apostilas. A dedicação, segundo ela, poderia ser ainda maior. “Se fosse por mim, eu estudaria literalmente o dia inteiro, mas a psicóloga não recomendou”, afirmou Ulli, que estuda das 7h às 23h, com três  intervalos para se alimentar e descansar um pouco. Ela terminou o ensino médio há dois anos.

 Jornada dupla

Para quem ainda está nele, a maratona é dividida em dois trechos, já que é preciso conciliar a preparação para o Enem com a preocupação em passar de ano. É o caso de Naívi Brito, 17, que se desdobra para dar conta das atividades do colégio e do ‘pré-vestibular’. “A quantidade de assuntos é muito maior do que seria se eu só estivesse estudando para o Enem. Fica cansativo”, afirmou ela, que vai para a escola pela manhã e tem as tardes e noites para se preparar para passar em Arquitetura. Juntando tudo, Naívi chega a estudar 14 horas num dia.

 Abdicação

O ritmo intenso da maratona requer, muitas vezes, que os candidatos deixem de fazer atividades que lhes davam prazer, como praticar esportes, ir a festas e até namorar. Naívi, que fazia jazz e balé, teve que parar de dançar para focar nos estudos. “Sinto muita falta, mas não tive alternativa. Quando tudo isso acabar, eu volto”, comentou.

 O caso de Ulli é ainda mais radical. Ela deixou de frequentar as aulas de Pilates, desativou sua conta e uma página de poesias que mantinha no Facebook, parou de ler livros que não tivessem a ver com o vestibular e, acredite, deu fim a um namoro. “Fica complicado ter namorado nesse ritmo de vida”, explicou. Mas tanto estudo e abdicação vale a pena? “Claro que vale! Não me vejo fazendo outra coisa”, garantiu Ulli.

 Para Ezequiel Cabral, professor de Geografia do cursinho Opção, perder noites e não fazer intervalos não são práticas aconselháveis. Para ele, no entanto, os longos períodos de estudo são necessários para os candidatos aguentarem as 4h30 do primeiro dia de prova e as 5h30 do segundo.

 “Nós recomendamos que os estudantes se preparem como maratonistas. Ele também precisa criar o condicionamento, estudando 4 ou 5 horas diariamente, para não se cansar no exame”, orientou.

 Limites

As maratonas de estudo, entretanto, precisam de limites, como apontam professores e pedagogos. Esse é um fator crucial para o aprendizado, apontam os especialistas. “É importante que o candidato tenha bom senso. A gente não é máquina, não pode comprometer o corpo por causa de uma prova”, afirma Maria Emília Bulhões, coordenadora pedagógica do cursinho Gregor Mendel.

 E o estudo prolongado pode causar danos à saúde dos candidatos, como ocorreu com o estudante Diego Miranda, 17. Aluno do 3º ano, ele pretende cursar Medicina e vem estudando até 13 horas  por dia, desde fevereiro. Com o tempo, a carga de estudos passou, literalmente, a pesar. “Tive problemas esse ano por causa da posição em que estudo. Minhas costas passaram a doer muito”, contou Diego, que precisou ir ao médico. Ele agora toma cuidado com a postura.

 Para encontrar o limite, a recomendação dada pelos professores é de que o aluno se conheça e fique atento ao seu desempenho ao longo da trajetória de estudos.

 Professor indica  como facilitar compreensão de enunciados

O preparo para o Enem não se limita a entender os assuntos, mas também a saber administrar o tempo e, portanto, entender rapidamente os enunciados. Para não perder tempo além do recomendado com os enunciados longos e textos extensos para análise, uma das marcas típicas do exame, o professor Ezequiel Cabral recomenda alguns macetes ao candidato.

 “Ele deve fragmentar o texto, escrevendo as ideias principais ao lado de cada parágrafo. Assim, quando ler o enunciado da questão, já vai buscar as referências que precisa no parágrafo certo”, indicou. Fazer simulados, contando o tempo gasto, também ajuda a melhorar o desempenho.

 Ritmo de estudos não diminui após aprovação, alerta acadêmico

O ritmo acelerado de estudos para o Enem acaba sendo uma espécie de preparação para a nova fase que espera o estudante, após a eventual aprovação numa faculdade. Ou seja, passar no vestibular não vai transportar o estudante para um período de facilidades.

 O número maior de matérias, o horário das aulas e as novas capacidades exigidas pelo ensino superior vão requerer do universitário dedicação contínua, assim como na fase de preparação. Aluno do 2º semestre de Medicina, Ilson Meireles Neto, 21 anos, estudou 12 horas por dia durante dois anos até passar em uma faculdade.

 Após a aprovação, a rotina de estudos continua intensa, mas tem um sabor diferente. “Continuo estudando muito, mas a satisfação de estudar a profissão que você sonha é muito grande”, comentou o rapaz, que não se arrepende de ter abdicado das saídas com a namorada e os amigos e de ter parado de frequentar a academia no período de estudos para o exame. “Valeu a pena”, afirma o acadêmico da Escola Bahiana de Medicina.

Informações – Correio

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